Obras de arte tombadas que sumiram em igrejas são encontradas em leilões particulares e até em hotel de luxo

Peças que sumiram das igrejas de Itu são rastreadas e o que se descobriu é que foram negociadas diversas vezes por colecionadores. Imagem sacra de uma igreja de ITU foi encontrada em um hotel de São Paulo.

TV Globo/Reprodução

Obras de arte tombadas e que fazem parte do nosso Patrimônio Histórico e Cultural, que deveriam estar em igrejas e constam como desaparecidas em décadas, foram encontradas expostas em outros lugares, como um hotel de luxo em São Paulo.

A obra exposta no hotel, por exemplo, é uma estátua de São Jorge que tem quase 200 anos. Os detalhes da armadura são cobertos de ouro, mas hoje ela está desmontada e vai precisar ser restaurada. Ela teria sido derrubada por um turista que resolveu subir no cavalo do santo.

No entanto, nem cavalou ou dragão fazem parte da obra original, que ganhou esses complementos quando passou a ser exposta no lobby do hotel há quase 20 anos. Foram vários acidentes provocados por turistas, que provavelmente não aconteceriam se ela estivesse em seu local original, na Igreja do Carmo, em Itu, de onde desapareceu há mais de 50 anos.

A cidade conhecida pelas coisas grandes, também é chamada de Roma brasileira pela quantidade de artigos sacros e igrejas bem conservadas.

"Nós temos mais de 178 itens tombados em cada igreja, mas muitas peças foram subtraídas. Hoje, a gente tem a subtração de mais de 40 peças", conta o museólogo Emerson Ribeiro Castilho , que passou anos pesquisando a história das obras das igrejas tombadas de Itu.

Foi ele que, no começo do mês, denunciou o paradeiro do São Jorge para o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). No documento, ele ainda apontou o sumiço do busto de Santo Elias, uma peça raríssima e que apareceu no catálogo de uma exposição nos anos 1980.

Outras obras foram descobertas em catálogos e em negociações feitas por colecionadores, como é o caso a pintura "Cristo Escoltado", que também estava desaparecida há décadas e foi comprada e vendida por vários colecionadores. Até que parou no acervo do artista plástico e colecionador Emanuel Araújo, que morreu em 2022.

A pintura "Cristo Escoltado", que também estava desaparecida há décadas, foi comprada e vendida por vários colecionadores.

TV Globo/Reproduçãpo

"O processo de inventário do Emanuel Araújo é um processo público e transparente. Se amanhã essa obra for identificada como uma obra necessária para esse acervo, certamente haverá uma facilitação, uma possibilidade dela ser arrematada por quem de interesse", diz o advogado Rubens Nalves.

A pintura estava na lista de um leilão do acervo do colecionador que aconteceria nesta segunda (25), com outro nome e lance mínimo de R$ 40 mil. Depois que o Fantástico começou a investigar a denúncia, o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) pediu a suspensão do evento e o Iphan pediu que a obra fosse retirada do leilão.

Entre tantas obras perdidas, duas boas notícias: o Museu de Arte Sacra de São Paulo recebeu em julho duas peças raríssimas, de cerca de 500 anos, desaparecidas há muito tempo. Agora elas estão no museu e podem ser contempladas pelo público.

Sobre a estátua de São Jorge, o hotel Unique disse, por nota, que aguarda um posicionamento do Iphan para entender melhor a questão.

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