Filhos de diplomatas foram proibidos pelos pais de depor à Polícia Civil sobre abordagem da PM; jovens só falarão ao Itamaraty

Na última semana, 2 PMs da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Vidigal apontaram armas para os filhos dos diplomatas do Canadá, Gabão e Burkina Faso durante parada em Ipanema.

Foto: Jornal Da Max

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Na última semana, 2 PMs da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Vidigal apontaram armas para os filhos dos diplomatas do Canadá, Gabão e Burkina Faso durante parada em Ipanema. Polícia do RJ investiga racismo. PMs apontam armas para filhos de diplomatas estrangeiros negros durante abordagem no Rio

Os diplomatas do Gabão e de Burkina Faso — pais de 2 dos 4 meninos abordados pela Polícia Militar na última semana, em Ipanema, na Zona Sul do Rio — não permitiram que os seus filhos prestassem depoimento à Polícia Civil do RJ.

Neste final de semana, os representantes das 2 diplomacias africanas informaram à Delegacia de Apoio ao Turismo (Deat) que os meninos só vão depor ao Itamaraty e com a presença de uma psicóloga.

Neste domingo (7), pessoalmente, o embaixador do Gabão no Brasil, Jacques Michel Moudouté-Bell, esteve na Deat e avisou que não iria levar seu filho para depor. Jacques Michel enviou uma carta ao Itamaraty protestando contra a abordagem, que considerou racista.

Mesmo assim, a Deat vai continuar insistindo para que os adolescentes falem à polícia fluminense por uma videoconferência. Os dois rapazes deverão deixar o RJ nesta segunda-feira (8) e voltar para Brasília. Eles estão de férias no Brasil.

A embaixatriz do Gabão, Julie-Pascale Moudouté-Bell, mãe de um dos menores abordados, disse que ficou chocada com a agressividade da abordagem aos jovens. O vídeo mostra o momento que os adolescentes foram colocados contra a parede.

PMs terão que explicar abordagem

Enquanto isso, os 2 policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Vidigal deverão prestar depoimento na próxima quarta (10). Eles terão que explicar, por exemplo, se é comum aquele tipo de abordagem e o motivo de eles terem interpelado os 4 rapazes — 3 deles negros.

Até agora, 4 pessoas já falaram no inquérito que apura racismo por parte dos PMs. São eles: 2 adolescentes [um brasileiro e o filho do diplomata canadense], a avó do menino brasileiro e o porteiro que estava no prédio e que viu a abordagem.

Em depoimento ao lado da avó, na sexta, na Deat, o jovem brasileiro detalhou a abordagem, que aconteceu por volta das 19h30 de quarta-feira, e começou pelos estrangeiros, que não entendiam o que os PMs falavam ("cadê, cadê?"), pedindo para que os 3 mostrassem as partes íntimas, para ver se tinham algo escondido por baixo das bermudas.

O g1 apurou que a Corregedoria da PM queria ouvir todos os jovens. No entanto, todas as famílias proibiram.

À Deat, o porteiro contou que achou a abordagem um pouco enérgica. No entanto, o funcionário do edifício destacou que essa é uma ação corriqueira da PM, em Ipanema, a pessoas negras. O homem relatou também que naquele dia não viu nada de mais e não presenciou xingamentos ou agressões.

Pedidos de desculpas do Itamaraty

Na sexta-feira (5), governo brasileiro fez um pedido formal de desculpas pela abordagem racista, por parte dos dois PMs.

Em nota, o Itamaraty informou que vai acionar o governo fluminense, para que seja realizada uma apuração rigorosa sobre o episódio, incluindo a responsabilização adequada dos policiais envolvidos.

As desculpas foram transitadas pelo ministro Mauro Furlan da Silva, chefe do cerimonial do Itamaraty, a mando do ministro Mauro Mendonça.

Também na sexta, ao g1, o secretário da PM, o coronel Marcelo de Menezes Nogueira, afirmou que, "de maneira serena" é preciso entender o que aconteceu. Ainda segundo Menezes, "é prematuro emitir juízo de valor sem apurar" o que aconteceu.

Até agora, representantes do Governo do RJ não se encontraram ou enviaram um pedido de desculpas aos diplomatas.