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Leonel Andrade Santos foi morto durante uma ação da PM no Morro São Bento, em Santos (SP). Operação Verão soma 43 mortos em confrontos com a polícia. Leonel Andrade Santos que foi morto durante a operação usava muletas e foi fotografado 1h antes de ser baleado; PM diz que houve confrontoReprodução e Arquivo PessoalLeonel Andrade Santos, de 36 anos, é um dos 43 mortos da Operação Verão, em vigor na Baixada Santista, no litoral de São Paulo. Ele usava muletas quando foi baleado, segundo a PM, durante um confronto no Morro São Bento, em Santos. Além dele, Jefferson Ramos Miranda, de 37 anos, também foi morto. ? Clique aqui para seguir o novo canal do g1 Santos no WhatsApp.Uma moradora da comunidade fotografou Leonel aproximadamente uma hora antes da morte, ao lado das muletas, como é possível ver na imagem obtida pelo g1 nesta quinta-feira (14). Segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), ambos os homens morreram após confronto com policiais militares do 4° Batalhão de Choque, do Comando de Operações Especiais (COE), no Morro São Bento, na noite de 9 de fevereiro. A família de Leonel, no entanto, nega a versão de confronto. Para a merendeira e esposa de Leonel, Beatriz da Silva Rosa seria impossível o marido trocar tiros com a polícia, pois não conseguiria correr. "Ele tinha dificuldade para se segurar, andar e se locomover com as muletas. [...] Até embaixo do sovaco vivia cheio de calos. Não tem como, não teve troca de tiros". Conforme apurado pelo g1, a foto de Leonel foi feita sem querer. Ele apareceu na imagem enviada por uma moradora a um motoboy para que o profissional visse o local da entrega de um pedido. O registro foi enviado à esposa de Leonel um dia após o sepultamento. Homem morto em operação policial, no Morro São Bento, em Santos, foi fotografado uma hora antes de morrerReprodução Beatriz era casada com Leonel há 14 anos e, segundo ela, o marido recebia o Benefício de Prestação Continuada (BPC). O homem estava na fila de espera para uma cirurgia de retirada do projétil alojado no joelho há 15 anos, quando foi baleado pela polícia. A esposa contou que, na época, o marido era envolvimento com o tráfico de drogas e ficou preso por 10 anos, mas, após isso, deixou o crime. "Ele nunca conseguia ficar sem as muletas dele. Uma perna estava até menor que a outra porque demorou muito tempo para operar e já estava até atrofiada", contou a merendeira. A mulher disse que era Leonel quem cuidava dos três filhos do casal, de 3, 6 e 9 anos, enquanto ela trabalhava. Beatriz afirmou que as crianças estão com o psicológico destruído após a morte do pai e, por isso, entrará na Justiça contra o estado. Ela negou que o marido tivesse arma. "O Leonel era um menino tão doce, juro pela vida dos meus filhos. Eu nunca escutei o Leonel falar que tinha ódio de polícia. Ele era muito na paz. [...] Sempre foi aquele pai que ficava a noite toda acordado, que fazia mamadeira, dava atenção quando [os filhos] estavam doentes", disse. O que diz a SSP-SP? Segundo a SSP-SP, o caso é investigado pelas polícias Civil e Militar, com acompanhamento da Corregedoria, Ministério Público e Poder Judiciário. Na ocasião dos fatos, Leonel e Jefferson foram baleados e mortos, de acordo com a pasta, após apontarem armas para policiais militares durante uma ocorrência de tráfico de drogas. A SSP-SP afirmou que a dupla foi socorrida e levada ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos. Na ação, foram apreendidos com eles um revólver calibre 38, uma pistola calibre 35, dois rádios transmissores e cerca de cinco mil porções de drogas, além de quantia em dinheiro. Entenda o caso Segundo o boletim de ocorrência, obtido pelo g1, a equipe policial estava em patrulhamento pela operação em combate ao crime organizado na área de mata do Morro São Bento na noite de sexta-feira (9), quando se deparou com a dupla armada na Rua São Mateus. Um dos homens estava com uma mochila e o outro com uma sacola.De acordo com a corporação, os indivíduos passaram a atirar na direção dos policiais, que revidaram com tiros de fuzis. Ao todo, foram dez disparos: sete realizados por um dos agentes e três por outro.A dupla foi atingida e socorrida até a Santa Casa de Santos, mas não resistiu. As famílias dos envolvidos contestam a versão dada pelos policiais e dizem que os policiais formaram uma barreira fechando a rua, impedindo que elas pudessem vê-los. Vídeos mostram a tentativa delas de passar pelo isolamento policial, sem sucesso. Além disso, os agentes estavam sem identificação na farda, sem câmeras corporais e o socorro demorou, afirmam. Baixada Santista: Famílias contestam versões de PMs em boletins de ocorrência VÍDEOS: g1 em 1 Minuto Santos