"Superterça": eleitores de 15 estados escolhem os candidatos que vão disputar a Casa Branca em novembro

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Era um dia decisivo para as prévias americanas, mas que em 2024 foi diminuído pela falta de nomes fortes para disputar com Donald Trump e Joe Biden. Milhões de cidadãos americanos votam nesta terça-feira (5) na chamada "Superterça", um dia fundamental para determinar quais candidatos vão disputar a Presidência dos a Estados Unidos na eleição de novembro. Quinze estados foram às urnas.

Os correspondentes Felipe Santana, Alex Carvalho e Luigi Sofio estão no Texas. Na fronteira com o México, eles mostram como a imigração se tornou um dos temas decisivos na campanha eleitoral de 2024.

Às 11h, a primeira família se arrisca na água. Chegam a uma ilha no meio do rio e continuam. São dois homens, uma mulher e uma criança. O grupo avança com água até a cintura e consegue chegar do outro lado.

O Rio Grande separa o México, onde a equipe do Jornal Nacional está, dos Estados Unidos, do outro lado. Os imigrantes atravessaram e agora estão andando perto dos containers e de cercas de arame farpado para tentar encontrar uma entrada para o país e se entregar para a polícia. Eles escalam a cerca e conversam com os policiais. Mas são mandados embora.

Um outro grupo se aproxima. São cinco homens e um bebê. Chegam os botes da Guarda Nacional do Texas. Os policiais gritam: "Para fora! Para fora!". Pela lei, eles não podem tocar nos imigrantes. Os mais jovens levam uma boia e conseguem driblar a polícia. O homem com o bebê quase se afoga.

A cena é bem diferentes das imagens que o Jornal Nacional gravou em maio de 2021, no começo do governo de Joe Biden. São centenas de migrantes chegando em botes. Até agora, foram 6,3 milhões de pessoas tentando entrar ilegalmente nos Estados Unidos durante o governo dele - um recorde. De praxe, depois da entrada, a polícia da fronteira faz a triagem e encaminha quem pode pedir asilo. Mais de 2 milhões de pessoas conseguiram entrar nos últimos quase quatro anos.

Foi para conter esse movimento que, em Eagle Pass, as autoridades montaram um aparato de guerra contra os migrantes. Enviaram a Guarda Nacional do Texas para reforçar a Polícia da Fronteira - um exército estadual de quase 20 mil homens e mulheres orientados a mandar de volta quem tentar entrar.

Foi ideia do governador, Greg Abott, do Partido Republicano, aliado de Donald Trump: US$ 13 bilhões em equipes, cercas de arame farpado, barreira de containers e boias para separar a parte mexicana e da americana do rio.

Donald Trump foi lá semana passada para usar o aparato de pano de fundo de campanha e disse: "É uma operação militar". Prometeu deportações em massa se eleito novamente.

A Amerika nasceu em Eagle Pass. Recebeu esse nome por ser filha de imigrantes. Ela diz que a operação é um desperdício de dinheiro público que mata imigrantes e também agentes americanos, e defende que a cidade agora vê menos imigrantes entrando por causa do trabalho diplomático junto ao governo do México, que impede que as caravanas sequer cheguem à fronteira.

Foi isso que o JN viu no abrigo do lado mexicano. O artista pinta na parede a bandeira de todas as nacionalidades que já passaram por lá. Lá dentro, apenas um terço da ocupação total. A Marta conta que teve que sair do interior do México: "Se ficar, te matam", disse.

Ela tentou atravessar o rio, mas não conseguiu. Pagou R$ 1 mil por pessoa para passar de bote. Parentes levantaram o dinheiro. Ela está com quatro filhos, uma delas grávida.

Alaly fez o trajeto com dificuldade. Tem o sonho de conseguir uma prótese para a perna - algo que nunca poderia imaginar em Honduras, onde nasceu. O que se percebe conversando com as pessoas é um desconhecimento total das leis americanas. Eles tentam deixar o passado para trás a qualquer custo.

A imigração é um dos temas centrais das eleições americanas. Nesta terça-feira (5) é a "Superterça", dia em que eleitores do Texas e de outros 14 estados votam nos pré-candidatos de cada partido à Casa Branca. Era um dia decisivo para as prévias, mas que este ano foi diminuído pela falta de nomes fortes para concorrer com Donald Trump e Joe Biden.

Funciona Assim: O que é e qual a importância da Superterça nas eleições dos EUA

As prévias funcionam como um jogo de tabuleiro. Para cada estado, os pré-candidatos avançam uma casa e acumulam delegados do próprio partido.

Entre os republicanos, Donald Trump já venceu em oito estados até agora, somando quase 300 delegados. Nikki Haley conseguiu muito menos ao longo da disputa. Ela só venceu na capital do país.

Na "Superterça", os jogadores andam 15 casas de uma vez só - todos esses estados vão decidir nesta terça-feira (5) quem querem ver na disputa em novembro.

Trump deve conquistar a grande maioria dos mais de 800 delegados desta noite. Com isso, o ex-presidente deve chegar muito perto do número necessário para ganhar jogo e se tornar o candidato republicano à Casa Branca.

Do outro lado, Joe Biden corre sem opositores de peso. O atual presidente também foi ao Texas para tratar da imigração. Defende que o Congresso aprove leis que permitam ao presidente fechar a fronteira quando muitas pessoas começarem a chegar.

São pessoas como as que mostramos no começo da reportagem. O pai com o bebê nas costas caminha pelo leito do rio, ao lado de cercas de arame farpado e dos contêineres enfileirados. Ele e o grupo conseguem chegar em um outro rio no lado americano que desagua no Rio Grande e passam por baixo de uma cerca que dá entrada aos Estados Unidos.

Pessoas tentam entrar nos Estados Unidos

Jornal Nacional/Reprodução

É a vida dessas pessoas que nem votam que está em jogo agora, envoltas em um aparato de guerra, em um momento em que o país da liberdade visto de fora parece mais uma prisão.

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