Torre da Igreja de Riverside, a mais alta de Nova York, se impõe durante Natal

Por trás do mistério, um instrumento que parece um piano.

Foto: Reprodução internet

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Por trás do mistério, um instrumento que parece um piano. Mas, em vez de teclas tradicionais, mecanismos que martelam os sinos da Igreja. Sinos fazem os sons do Natal em Nova York

Para quem pode celebrar o Natal, essa é uma data de sensações aguçadas. Têm aquelas emoções que são provocadas por memórias, ou pela visão de um presente embrulhado. É uma data que também pode ter aromas e sabores bem tradicionais, se houver uma ceia natalina. E é também um evento embalado por um som muito característico.

É a temporada dos sinos. Eles soam pedindo doações. Embalam canções natalinas. Uma sinfonia nem sempre afinada. Mas o som que emana da torre da Igreja de Riverside, a mais alta de Nova York, se impõe sobre a cacofonia.

"Muitas pessoas que andam, mesmo as que tão indo pra escola, ou alguma coisa assim, às vezes escutam e olham pra cima: 'Da onde tá vindo esse som?'. Mas, de lá de baixo, não dá pra vez os sinos. Então, é meio que um mistério", diz Gustavo Almiral, criador do projeto Carrilhão.

Por trás do mistério, um instrumento que parece um piano. Mas, em vez de teclas tradicionais, mecanismos que martelam os sinos da igreja.

"O sino, ele fica parado, o sino em si não mexe, o que mexe é o martelo dentro. Então, quando eu empurro esse daqui, o martelo bate no sino", diz Gustavo.

É a 120 metros do chão que a música acontece. Cada vez que o Gustavo toca uma tecla, aciona esses cabos de aço que fazem os sinos soarem. Esse carrilhão tem 74 sinos, que variam de 5 quilos a 20 toneladas.

Para chegar até o alto, a subida é longa. Mais exatamente, 140 degraus até o topo, onde fica o carrilhão de quase cem anos — presente de um bilionário aos moradores de Nova York.

Os acordes de "Manhã de Carnaval", de Luiz Bonfá e Antonio Maria, que reverberam sobre a cidade, saem das mãos —e de todo o corpo— do Gustavo.

O instrumento nasceu no século XVII, na Bélgica.

"Antigamente, o carrilhão era usado em comunidades pra avisar quando tinha fogo, pra avisar se tinha alguma emergência", diz Gustavo.

Com o tempo, o instrumento ganhou versatilidade. Mas perdeu público.

O primeiro encontro do Gustavo com o carrilhão foi depois de um convite para um concerto, que ele viu numa rede social.

"Eu sempre amei música e eu fui lá visitar, escutar um concerto e aí eu vi que só tinha uma pessoa lá escutando. Aí eu falei 'nossa, que estranho, achei que ia ter muitas, muitas pessoas lá assistindo'", diz Gustavo.

Gustavo criou um projeto para que mais gente conheça o instrumento. Durante a reportagem, um grupo veio visitar o carrilhão de Riverside. Quem já toca, teve uma aula especial. Notas que se misturam com a música de fundo da cidade.

"Aqui, na cidade, se mistura com outros sons. Tem polícia, tem tudo. Mas, na hora que quer escutar som, só escuta isso. Então, isso apaga. É como meditação. Tocar a música e escutar, pra mim, é mais ou menos isso. É desligar tudo em volta de você. É só você e as notas. Não importa o que está acontecendo. É uma hora que você respira, relaxa e traz prazer pra si e outras pessoas. É o que me deixa feliz", diz Gustavo.