Após ataques a navios, coalizão encabeçada pelos EUA vai criar corredor seguro no Mar Vermelho; líder rebelde diz que responderá com mísseis
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Nos últimos dias, os houthis começaram a atacar um novo alvo com foguetes e drones: os navios cargueiros que passam pelo Mar Vermelho com destino ao Canal de Suez. Homens armados em praia do Iêmen com navio cargueiro ao fundoKhaled Abdullah/ReutersEm meio a uma série de ataques a navios cargueiros no Mar Vermelho, os Estados Unidos irão liderar uma coalizão para criar um corredor seguro na região —de modo a evitar ataques de rebeldes houthis, um grupo do Iêmen que apoia os palestinos do Hamas na guerra contra Israel.O plano é que navios da Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) criem uma espécie de escudo contra ataques de drones e mísseis deflagrados pelos rebeldes. Os ataques têm impactado uma dos principais rotas de distribuição de suprimentos do mundo, o Canal de Suez, o que tem potencial de ameaçar a economia mundial.Chamada de "Guardião da Prosperidade" e ainda em fase inicial, a operação visa enfrentar a recente escalada de ataques dos houthis. "Navios e aeronaves de várias nações estão e continuarão a se juntar aos Estados Unidos na realização de vigilância marítima e tomando ações defensivas conforme apropriado para proteger navios comerciais da ameaça representada pelos Houthis", afirmou na terça-feira (19) o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby.Países como França, Itália, Holanda, Noruega, Espanha, Bahrein e Seychelles estão entre os participantes da operação. Em reação, o chefe dos houthis, Abdel-Malek al-Houthi, disse nesta quarta (20) que o grupo não ficará de "braços cruzados" e atacará com mísseis os navios de guerra da coalizão. Os houthis são alinhados ao Irã e ao Hamas.Ataque de rebeldes que apoiam o Hamas obriga navios a desviarem rota no Mar Vermelho e põe em risco economia mundial; entendaEntenda o que está acontecendo Uma série de ataques a navios em trânsito no Mar Vermelho, em direção ao Canal de Suez, obrigou empresas de logística a mudar o trajeto de seus cargueiros, que terão que dar voltas maiores, o que pode ter consequências para a economia do mundo inteiro.O Canal de Suez é a principal conexão entre a Ásia e a Europa, e o caminho marítimo que inclui o Mar Vermelho e o canal é importante para cadeias de suprimento de produtos em todo o mundo. A Agência de Energia dos Estados Unidos (EIA, por sua sigla em inglês) afirma que o local é "essencial para a segurança energética global" e no abastecimento de matérias-primas e mercadoria.Os ataques foram feitos pelos rebeldes houthis, um grupo que apoia os palestinos do Hamas na guerra contra Israel. Entenda abaixo o que está acontecendo na região.A guerra no IêmenO Iêmen vive uma guerra civil há anos na qual um grupo armado é apoiado pela Arábia Saudita, e o outro, pelo Irã. Esses últimos são os rebeldes houthis.Nos últimos dias, os houthis começaram a atacar um novo alvo com foguetes e drones: os navios cargueiros que passam pelo Mar Vermelho com destino ao Canal de Suez.O Mar Vermelho é um canal entre a Península Arábica e o continente africano. Em um ponto, no Estreito de Babelmândebe, a distância entre os dois continentes é de apenas 30 quilômetros de mar. Cerca de 10% dos bens comercializados no mundo atravessam essa passagem, de acordo com a agência de notícias Associated Press.O Iêmen está em uma das pontas do estreito. Na segunda-feira (18) os houthis confirmaram dois ataques. Eles afirmam que vão atacar navios que têm alguma conexão com a guerra de Israel com o Hamas, mas na prática os alvos deles não são ligados ao conflito (veja abaixo quais foram os últimos cargueiros atacados).Os EUA podem enviar militares para responder aos ataques dos rebeldes houthis. O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin afirmou que o país vai organizar uma força com representantes de diversas nações para "responder aos desafios de segurança no sul do Mar Vermelho e no Golfo de Aden, com o propósito de garantir a liberdade de navegação para todos os países".Mapa mostra o caminho que os navios fazem até chegar ao Canal de SuezKayan Albertin/g1Cargueiros evitam a regiãoOs ataques a navios comerciais assustaram algumas das principais empresas de navegação e de petróleo do mundo. Na prática, elas estão desviando a rota comercial do Mar Vermelho.Cerca de 50 navios atravessam o Canal de Suez por dia. Segundo o jornal "The New York Times", os dados mais recentes apontam que pelo menos 32 mudaram de rota. Essas mudanças devem causar atrasos e aumentos de preços.A British Petroleum (BP) afirmou que decidiu "pausar temporariamente todo o trânsito pelo Mar Vermelho", incluindo envios de petróleo, gás natural liquefeito e outros suprimentos de energia. Trata-se de uma "pausa de precaução", segundo a empresa. A decisão não é definitiva.Preços do petróleo e de gás natural subiram na Europa por causa do nervosismo do mercado em relação aos ataques dos houthis.Pelo Canal de Suez também passam produtos alimentícios e produtos manufaturados. Ele foi inaugurado em 1869, para ligar o Mar Vermelho ao Mediterrâneo, e tem capacidade para receber navios gigantes de até 240 mil toneladas.O canal permite que os navios economizem 9 mil quilômetros, de acordo com o World Maritime Transport Council (WSC), instituição que representa as principais empresas de transporte marítimo de carga.John Stawpert, gerente sênior de meio ambiente e comércio da Câmara Internacional de Navegação, afirmou que uma interrupção da passagem de navios pelo Canal de Suez "tem o potencial de causar um enorme impacto econômico".Foi no canal que, em 2021, o cargueiro Ever Given ficou preso e interrompeu o trânsito de navios.Meganavio encalhado no Canal de Suez provoca prejuízos bilionários pelo mundo; entendaCabo da Boa EsperançaQuatro das cinco maiores empresas de navios cargueiros do mundo suspenderam a passagem pelo Mar Vermelho ou redirecionaram o trajeto. São elas:MSC,Maersk,Grupo CMA CGM eHapag-LloydSimon Heaney, gerente senior da consultoria Drewry, diz que provavelmente todo o serviço de transporte vai ter que mudar de rota.Alguns navios terão que contornar o Cabo da Boa Esperança, no sul da África. Segundo alguns analistas ouvidos pela Associated Press, isso pode aumentar o tempo de viagem em mais de uma semana.As empresas podem colocar mais navios em circulação para compensar o tempo extra ou queimar mais combustível se decidirem ir mais rápido.Isso tudo aumenta o custo do transporte, mas a alta de preços não deve ser semelhante à que ocorreu durante a pandemia, segundo Heaney, da Drewry.Os ataques recentesUm porta-voz dos houthis, o general Yahya Saree, disse que o grupo atacou os seguintes cargueiros:O navio-tanque Swan Atlantic, de bandeira das Ilhas Cayman, que levava produtos químicos e petróleo.O navio de carga MSC CLARA, de bandeira do Panamá. Fora isso, outros navios afirmaram que foram atacados:A operadora dinamarquesa Uni-Tankers afirmou que o navio Swan Atlantic, que transportava óleos vegetais para um território da França no Oceano Índico foi atingido por um objeto que provocou um pequeno incêndio. O fogo foi apagado, o navio recebeu auxílio militar e seguiu a jornada