Dinheiro é levado em 'bike-forte' na cidade das bicicletas no Pará; VÍDEO

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Dinheiro é levado em 'bike-forte' na cidade das bicicletas no Pará; VÍDEO
Afuá é conhecida como a 'Veneza Marajoara'. Carros, motos e outros veículos automotores são proibidos. Por isso, as variações da bicicleta e adaptações são utilizadas para garantir os serviços à população. 'Bike-forte' chama atenção na cidade das bicicletas, Afuá, no Pará

Para abastecer os caixas eletrônicos, Afuá, conhecida como 'Veneza Marajoara' — a cidade das bicicletas, usa uma espécie de 'bike-forte'. A adaptação do carro-forte tem viralizado na internet, depois que o criador de conteúdo Rômulo Dias publicou um vídeo mostrando o veículo, na segunda-feira (12).

Afuá tem 133 anos e faz parte arquipélago paraense do Marajó. Distante 320 km de Belém, o município contabiliza 37.765 habitantes, segundo o Censo de 2022. O acesso à localidade, próxima à foz do rio Amazonas e construída em grande parte sob palafitas, é feito por barco ou táxi aéreo.

Transporte de dinheiro para caixas eletrônicos de Afuá tem viralizado nas redes sociais por ser feito em bicicleta.

Rômulo Dias

"Não temos veículos motorizados. Nosso único meio de transporte são bicicletas, triciclos ou 'bicitáxis'. O dinheiro chega até o município de avião (a cidade tem uma pista de pouso e decolagem). Em seguida, ele é transportado até o banco de bicicleta ou de triciclo, acompanhado da equipe de segurança da transportadora e da Polícia Militar (PM)", detalhou a prefeitura por meio da assessoria.

Desde abril de 1990, a circulação de veículos automotores, como carros e motos, é proibida na cidade. Por isso, ao longo dos anos, moradores adaptaram as bicicletas nas mais variadas versões para suprir todas as necessidades.

Pista de avião em Afuá, a única da cidade.

Prefeitura de Afuá

Entre as "engenhocas" está o 'bicitáxi', que pode ser sobre duas rodas ou três - mas ela não foi criada apenas para transportar passageiros. Os serviços dos condutores são alugados para levar objetos também, como é o caso flagrado por Rômulo.

"Naquele momento já estavam voltando do banco [cena do vídeo]. [O homem de vermelho] é pago para fazer esse transporte. Eles [empresa de transporte do dinheiro] pagam o transporte na chegada e quem tiver disponível a fazer o serviço no momento vai", explicou a prefeitura.

Segundo a gestão, os abastecimentos dos caixas nas duas agências bancárias de Afuá ocorrem de duas a três vezes ao mês e são acompanhadas por militares para dar apoio à pequena equipe de segurança privada que vem de Belém.

Moradores de Afuá mostram como vivem sem carros.

Aislan de Paula

Visitando o 143º dos 144 municípios paraenses em uma espécie de 'mochilão' pelo Pará, Rômulo já esperava as peculiaridades de Afuá e destacou a organização do local.

"Eu já estou viajando a quase dois anos pelo Pará, mostrando essa diversidade que existe no estado. Essa cidade é bem legal para viver. Apesar de algumas adversidades, que existem em qualquer cidade, Afuá está muito a frente de outros municípios. Não tem barulho de motor, de buzina. A cidade é muito tranquila e as pessoas muito receptivas", contou Rômulo.

Rômulo Dias em uma das praças de Afuá durante a viagem.

Arquivo pessoal

'Veneza Marajoara', Afuá mostra como viver sem carros; FOTOS

Fenômeno urbano

Além das 'bicitáxis', outras adaptações fazem parte do cotidiano de Afuá, como as 'bicilâncias' (ambulâncias do Corpo de Bombeiros), os 'biciaçougues' e uma versão dos caminhões de lixo sobre rodas menores.

Afuá, no Pará

Prefeitura de Afuá

"'Bicitáxis' são resultado de necessidades e limitações de um povo que cria soluções, agregando sua expressão artística e cultural, cheia de referências que vão do pop à tradição amazônica", destacou a pesquisadora Vanessa Simões sobre o tema.

'Bicitáxi', 'bicilância' e carregador de lixo em Afuá.

Aislan de Paula / Max Oliveira / Arquivo pessoal

Por ficar próxima ao rio, em área de várzea, enchentes afetam a região de maneira sazonal. Por isso, a maior parte da cidade fica suspensa em palafitas, inclusive as ruas e ciclovias.

"Bicitáxis" personalizados durante o Festival do Camarão em Afuá, no Marajó

Ascom/Prefeitura de Afuá

O professor Agenor Sarraf lembra que o início do que viria ser Afuá se deu no período da borracha, no final do século XIX e início do XX. Na região, havia muito seringal, comum em área de várzea.

"No auge da economia da borracha, os donos de seringais passam a povoar o território, e os novos moradores passam a trabalhar também com madeira, palmito, e economia de subsistência [pesca, coleta de frutos], e esses novos moradores passam a construir pontes e a abrir caminhos no meio da várzea. [...] E à medida que há expansão e crescimento, nasce da necessidade de usar a bicicleta", diz o professor de história", explicou.

'Bicitáxi': tudo em Afuá, cidade no Marajó, é feito à pé ou de bicicleta, segundo moradores.

Aislan de Paula

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