Família lança livro póstumo de poesias escritas por menina de 7 anos que morreu atingida por árvore
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Isabela deixou 22 poesias em um caderno onde retrata situações do cotidiano. Para a família, uma oportunidade de eternizá-la. Sergio Fermino, a mulher Gislene e a filha IsabelaArquivo PessoalIsabela Tibúrcio Fermino, de 7 anos, ficou conhecida como a criança que morreu atingida por uma árvore no Parque Taquaral, em Campinas (SP), no dia 24 de janeiro de 2023. Quase dez meses depois, a família da menina quer ressignificar essa história e, a partir do lançamento de um livro de poesias escritas pela própria Isabela, mostrar a essência dela."É um dever como pai, uma missão: mostrar ao mundo quem é minha filha. Ela não se resume a uma tragédia, ela é muito mais que isso. Foi super gentil e dócil com todos, uma agregadora", disse ao g1 o pai da menina, Sergio Fermino, emocionado.Apesar da pouca idade, Isabela deixou 22 poesias em um caderno comprado pela mãe, onde retrata situações do cotidiano: a hora de dormir, o passeio na praia. Para os pais, uma oportunidade de eternizar e deixar ao alcance de todos em formato de poesia "toda gentileza, amor, carinho, alegria, delicadeza, amizade, criatividade e inteligência" da menina."O livro vai dar a possibilidade da gente compartilhar com as pessoas a capacidade da Isa. A ternura, o carinho, o amor. Ela tem uma poesia escrita para cada vivência assim, sabe? Ela demonstra através daqueles versos a maneira como ela enxergava a vida: uma maneira leve, bonita, uma maneira amorosa", contou o pai.Livro póstumo de Isabela Tibúrcio FérminoReprodução/AdonisLivro era uma promessa da mãeSérgio explicou ao g1 que Isabela começou a escrever aos cinco anos, estimulada pelos pais durante a pandemia. Percebendo que ela tinha talento, a mãe já havia prometido à menina juntar as poesias em um livro. "Aí ficou sendo uma promessa da mãe para a filha. E olha que bonitinho: no dia que a minha esposa, a Gislene, falou isso para ela, ela escreveu cinco. Ela toda empolgadinha, coitada. Ela escreveu cinco de uma vez. E começou assim", explicou o pai.Incentivo à leituraCom o convívio próximo durante a pandemia, quando foi trabalhar remoto de casa, Sérgio começou a estimular a leitura e escrita da menina. Por isso, além de eternizar a história da filha, o pai quer estimular que outros pais criem esse hábito.Sérgio Firmino e a filha Isabela durante trabalho social em CampinasSérgio Fermino/Aquivo Pessoal"Nós temos a pretensão de que esse livro sirva de incentivo à leitura infantil. De incentivo a escrita. Motivar as famíliasa lerem com os seus filhos, terem esse tempo em casa motivando as crianças a ler, a escrever".Livro construído no amorO pai da Isabela explicou ao g1 que o marido de uma amiga da mãe da menina soube do desejo da família de publicar um livro com as poesias escritas pela Isabela e, sem avisar os pais da dela, enviou um e-mail a uma editora. "Quando chegou lá na mão da Valéria, que é uma das sócias da editora, ela se encantou com a história. Falou: nós vamos levar isso adiante, vamos publicar, sim. Então, nasceu inclusive desse intermédio de amigos. É um movimento feito totalmente no amor, uma coisa bonita que está surgindo".Trecho do caderno onde a menina Isabela escrevia as poesiasArquivo pessoalNo trecho acima do caderno de Isabela, cedido pela família, ela retrata os momentos antes de dormir. "Todas as noites durante os sete anos de vida da Isa, a mãe dela deitava-se com a Isa até ela adormecer. Invariavelmente as duas conversavam e, principalmente quando ambas estavam muito cansadas, riam muito. Dessa vivência saiu essa poesia", explicou o pai.Lançamento em dois lugares marcantesO lançamento do livro acontece neste sábado (11) em dois lugares de Campinas. Às 10h na Escola Estadual Físico Sérgio Pereira Porto, onde, segundo a família, ela estava desenvolvendo seu "maravilhoso potencial intelectual" e onde Isabela era uma aluna nota 10. E às 14h na Igreja Batista do bairro Cambuí, onde a menina "amava louvar ao Senhor com sua linda e doce voz".A partir de segunda-feira (13), o livro também estará disponível no site da editora.Responsabilização No mês passado, o Ministério Público (MP-SP) ingressou na Justiça com uma Ação Civil Pública na qual responsabiliza a Prefeitura de Campinas pela queda do eucalipto que causou a morte da Isabela.A Promotoria pede que o governo municipal seja condenado ao pagamento de R$ 2 milhões em indenização por danos morais coletivos "referentes aos constantes riscos à saúde, à vida e à integridade física da população de Campinas em razão do descumprimento das normas de manejo adequado da arborização urbana no município".Árvore caiu na Lagoa do Taquaral, em Campinas, e matou criançaReprodução/EPTV"Fica evidente a negligência da PMC (Prefeitura de Campinas), com o manejo do Parque Taquaral e com os seus visitantes, bem como o grande período, de quase uma década, que a PMC teve para tomar as medidas necessárias e não tomou, sendo injustificável a não realização do inventário/avaliações e do manejo necessário na área. (...) Resultando no tombamento na direção de queda natural, dada pela desproporção de galhos na copa do indivíduo, ocasionando assim o grave acidente na data de 24/01/2023", diz o texto da ação.LEIA MAISMP diz que negligência da Prefeitura de Campinas no manejo de árvores causou as duas mortes em parquesMenina estava com a família no parqueA tragédia ocorreu na manhã de terça-feira, 24 de janeiro, quando a família, residente em Hortolândia (SP), estava no Parque Taquaral, principal área de lazer pública de Campinas, para celebrar o aniversário de uma prima da menina. Isabela com prima e amigas brincando em piquenique antes de tragédia na Lagoa do TaquaralReprodução/EPTVA árvore, um eucalipto de 20 metros, caiu próximo à lagoa dos pedalinhos e matou Isabela Tibúrcio Fermino, de 7 anos, que fazia um piquenique com a família."Quando menos, olho para lá, vejo ela debaixo da árvore. Daí passou a enfermeira, a enfermeira começou a fazer a massagem cardíaca nela e tentava sentir [sinais vitais], e eu olhava e percebia que ela não estava sentindo nada", disse a mãe em entrevista à EPTV, afiliada da Globo, há seis meses.A engenheira ambiental Gabriela de Araújo Rodrigues, de 27 anos, também foi atingida pela árvore e teve ferimentos graves. Ao g1, numa entrevista em fevereiro, ela contou que precisou ficar na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e fez algumas cirurgias."Fiz a cirurgia de coluna, tive que colocar oito parafusos para descomprimir e alinhar. Depois disso eu tive que fazer uma reparatória porque um dos parafusos não tinha ficado certinho no lugar [...] No início foram movimentos só nas pontinhas dos dedos, depois formigamento, hoje está melhor consigo alguns movimentos. Acredito que essa semana já saia do hospital", disse à época.Logo após a tragédia que matou Isabela Tibúrcio Fermino, a administração determinou o fechamento de todos os bosques e parques. A Lagoa do Taquaral foi reaberta ao público em 25 de março, após extrações de 181 árvores que poderiam apresentar algum tipo de risco aos visitantes, informou a prefeitura.VÍDEOS: saiba tudo sobre Campinas e RegiãoVeja mais notícias da região no g1 Campinas