São Paulo tem mais de 11 milhões de habitantes. É a maior cidade do país e da América Latina, agitada e pulsante. Mas, às vezes, é como outra cidade qualquer, onde as pessoas se encontram e se apaixonam nos lugares mais simples, como no hall de um prédio.
Em 2021, o paulistano Johnny de Carvalho tinha acabado de se separar e morava sozinho em um apartamento quando conheceu Cristiane de Araújo, sua vizinha de corredor.
Ela tinha 39 anos, 14 a mais que ele, um sorriso frouxo e um carisma sem igual. A baiana de Salvador, nova no condomínio, pediu ajuda ao vizinho para comprar uma tag de acesso ao prédio. Johnny inventou uma desculpa qualquer para pegar o contato dela.
Dois dias depois, o rapaz a convidou para um café da manhã. "Em três meses, a gente foi morar junto”, conta Cristiane. No primeiro ano de relacionamento, nasceu a filha do casal, Estela. O apartamento de Johnny foi alugado e hoje a família vive no imóvel de Cristiane. Já são 4 anos juntos (e contando).
No forró de Paraisópolis
A história poderia se passar em qualquer cidade, mas aconteceu em São Paulo, onde a baiana veio morar com a mãe ainda adolescente. Na cidade que reúne gente de todo o país (e do mundo), não são raros os relatos de quem encontra o "amor da vida" em alguém de outro estado. Gente como a pernambucana Neide Melo e o paraibano José Nilton.
Os dois se conheceram no "Forró da Priscila", evento organizado pela irmã de José em Paraisópolis, a segunda maior favela de São Paulo. "Eu estava lá 'toda linda' e ele veio dar em cima de mim", brinca Neide.
José a tirou para dançar. Era a segunda vez que ele tentava chamar a atenção da pernambucana, mas a tática acabou não dando certo. Na hora da dança, a coreografia dos dois não encaixou. "Ele ia para um lado, eu ia para o outro. Falei: 'Ah, moço, não sei dançar assim não'. Saí e deixei ele falando sozinho'".
O paraibano não desistiu. Depois do forró, mandou uma mensagem para Neide no Facebook. Ela topou conversar. No primeiro encontro, José apareceu com uma camiseta laranja "bem chamativa". Ela achou graça e acabou se apaixonando.
Agora, o casal tem duas filhas e trabalha junto, vendendo churrasco nas ruas de Paraisópolis.
"Existe amor em São Paulo, sim. Se eu não estivesse aqui não tinha conhecido meu marido, não tinha minhas duas filhas", diz Neide.
Encontro no Farol
São Paulo tem também amores que parecem fruto do destino, como na história de Jordana Pires e Rafael D'avila. Os dois até se conheciam de Florianópolis (SC), onde se cruzavam, volta e meia, em festas. Naquela época, no entanto, cada um estava em um relacionamento e nem olhava um para o outro.
Anos depois, já separados, os dois se reencontraram entre os milhões de habitantes de São Paulo. Era 2022 e eles combinaram de sair para colocar o papo em dia. O encontro foi no icônico Farol Santander, ponto histórico da cidade. Quando o bar ia fechar, saíram para jantar. Foi quando aconteceu o primeiro beijo.
"Ela que deu o primeiro passo, porque eu sou bem boca mole", conta Rafael, usando a gíria florianopolitana para descrever pessoas "bobas", segundo ele.
O amor que começou no Farol Santander cresceu abraçado pela capital paulista.
"O Rafa sempre foi um apaixonado pela cidade, pela arquitetura, pela história. Então, quando a gente começou a se relacionar, eu passei a olhar para a cidade com um olhar mais poético também", diz Jordana.
Empresário, Rafael abriu uma loja de roupas no Copan, edifício projetado por Oscar Niemeyer e um dos mais famosos da cidade, na região central. Ao lado dele, Jordana passou a frequentar cada vez mais os pontos culturais de São Paulo.
Um dia, enquanto mexia no celular, Jordana viu o anúncio de um apartamento no centro. O prédio era assinado pelo arquiteto Artacho Jurado. O casal decidiu "dar uma passadinha" em frente ao local para ver o imóvel. "Quinze dias depois, a gente estava botando tudo em caixa e vindo pra cá", conta a criadora de conteúdo. A vista do apartamento dá para o Farol Santander, lugar que marcou o reencontro da dupla.
O anonimato como aliado
Há, ainda, os amores que embarcam e desembarcam na cidade dia após dia. A historiadora Paula Pretto, de 24 anos, não mora aqui, mas foi na capital paulista que encontrou a sua namorada, a psicóloga Alanis Lopes, 25 anos.
“A maior prova de que existe amor em São Paulo, de todos os tipos, é que dá para andar na rua de mãos dadas. É um pequeno detalhe, mas é uma das coisas”, diz Paula.
No meio da maior metrópole, a historiadora diz que o anonimato vira uma vantagem. “Não ter vizinho fuxicando, coisas de outros estados ou cidades menores, faz com que se abra um mapa de possibilidades”.
“Você se sente mais livre, mais à vontade para amar do jeito que você quiser”, resume Alanis.
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