Boca de urna indica vitória da extrema direita em eleição com participação recorde na França; Macron pede aliança com esquerda
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Franceses começam a escolher neste domingo (30) o novo Parlamento do país, com pesquisas indicando vitória com folga da extrema direita. Índice de participação até 17h locais era de 59%, mais alto em quase 40 anos. Eleições na FrançaYves Herman/ReutersO presidente francês, Emmanuel Macron, sai de cabine de votação durante eleições legislativas na França, em 30 de junho de 2024.Yara Nardi/ ReutersO primeiro turno das eleições legislativas da França, convocadas há apenas três semanas, terminou neste domingo (30) com recorde de participação em 40 anos e a concretização da extrema direita como favorita, segundo pesquisas de boca de urna. ? Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsAppSegundo uma pesquisa dos institutos Ifop, Ipsos, OpinionWay e Elable, o partido Reunião Nacional (RN), de Marine Le Pen, indica vitória da sigla, com 34% dos votos. Diante do resultado, o presidente francês, Emmanuel Macron, de centro, pediu uma aliança ampla entre "candidatos republicanos e democráticos" para o segundo turno das eleições, que acontecem em 7 de julho. Uma eventual vitória da extrema direita pode tornar o governo do presidente francês, Emmanuel Macron, inviável na prática. O pleito foi convocado antecipadamente no início de junho pelo presidente francês. Diante do resultado ruim de seu partido e do avanço da extrema direita nas eleições para o Parlamento europeu -- o Legislativo de todos os países da União Europeia, com sede em Bruxelas --, Macron tomou a arriscada e surpreendente decisão de dissolver o Legislativo francês e marcar uma nova votação. A resposta dos eleitores neste domingo, por enquanto, foi grande: o comparecimento às urnas até às 17h no horário local (meio-dia no Brasil), foi o mais alto em quase 40 anos no país, com um índice de 59% do total de votantes. O presidente francês, Emmanuel Macron, sai de cabine de votação durante eleições legislativas na França, em 30 de junho de 2024.Yara Nardi/ ReutersO índice é considerado alto para eleições na maioria dos países da Europa Ocidental, onde o voto não é obrigatório. Nas eleições passadas da França, em 2002, a participação foi de cerca de 47%, por exemplo. Macron e a líder da extrema direita, Marine Le Pen, votaram cedo, e as urnas ficaram abertas até às 20h no horário local (15h do Brasil).Por que Macron pode dissolver o Parlamento na França e convocar novas eleições? Pelo sistema político da França, semipresidencialista, os eleitores elegem os partidos que vão compor o Parlamento. A sigla ou a coalisão que obtiver mais votos indica então o primeiro-ministro, que, no país europeu, governa em conjunto com o presidente -- este eleito em eleições presidenciais diretas e separadas das legislativas e que, na prática, é quem ganha mais protagonismo à frente do governo. Caso o presidente e o primeiro-ministro sejam de partidos políticos diferentes, a França entrará em um chamado governo de "coabitação", o que ocorreu apenas três vezes na história do país europeu. Um cenário que pode paralisar o governo de Macron. Isso porque, neste caso, o premiê assume as funções de comandar o governo internamente, propondo, por exemplo, quem serão os ministros. O primeiro-ministro atual, Gabriel Attal, é aliado de Macron, mas, se as pesquisas se concretizarem, quem deve assumir o cargo é o Jordan Bardella, de apenas 28 anos, o principal nome do partido de extrema direita de Le Pen, o Reunião Nacional (RN). As pesquisas mais recentes indicam maioria para o RN. Um levantamento do instituto de pesquisas francês OpinionWay na última sexta-feira (28) apontou que o RN poderia alcançar até 37% dos votos, o que representa um aumento de dois pontos percentuais na comparação com uma semana atrás. O partido centrista de Macron estava em terceiro lugar -- atrás do bloco formado por siglas da esquerda -- pcom 20%, uma queda de dois pontos em relação à última publicação. A coligação de esquerda NFP, formada por socialistas, comunistas e ambientalistas e pelo partido radical França Insubmissa (LFI), já indicou que retirará seus candidatos se chegaram em terceiro lugar ao segundo turno para dar mais chances ao candidato do governo e tentar derrotar a extrema direita.As eleições parlamentares são realizadas em dois turnos -- um neste domingo e o outro, em 7 de julho. A líder do RN, partido da extrema direita, Marine Le Pen, vota em Hénin-Beaumont, no norte da França, em 30 de junho de 2024.Yves Herman/ ReutersLEIA MAIS:Por que aposta eleitoral de Macron pode abalar a democracia na FrançaUnião da esquerda pode prejudicar Macron e dar vitória à direita radical nas eleições na FrançaO que acontece se a extrema direita assumir o Parlamento?Entenda como funcionam as eleições parlamentares na FrançaO partido de Macron tinha maioria na constituição do Legislativo dissolvido pelo presidente, com 169 deputados. O RN, de Le Pen, era o partido de oposição mais forte, com 88 assentos.Para ganhar maioria absoluta, é preciso que uma sigla ou coalizão alcance o número de 289 deputados. Caso a extrema direita ganhe, Macron teria de nomear um adversário para o cargo de primeiro-ministro -- caso opte por não fazê-lo, ele pode ser alvo de uma Moção de Censura, um recurso do Legislativo no qual deputados votam se querem mantê-lo ou não no cargo. No cenário do chamado governo de coabitação, o presidente mantém o papel de chefe de Estado e da política externa — a Constituição diz que ele negocia também tratados internacionais—, mas perderia o poder de definir a política doméstica e de nomear ministros, o que ficaria a cargo do primeiro-ministro.Isso aconteceu pela última vez em 1997, quando o presidente de centro-direita, Jacques Chirac, dissolveu o Parlamento pensando que ganharia uma maioria mais forte, mas, inesperadamente, perdeu o controle da Casa para uma coalizão de esquerda liderada pelo partido socialista.Impacto no país Parlamento francêsMartin Bureau/AFP p e convocar um novo pleitop. O partido de Macron tentou diversas vezes alertar para o risco da chegada ao poder da extrema direita – que tem se esforçado para moderar a imagem herdada do seu fundador Jean-Marie Le Pen, pai de Marine Le Pen e conhecido por seus comentários racistas. Desde que Marine Le Pen assumiu a liderança do RN, em 2011, ela vem tentando impor pautas populistas para os franceses, com posturas xenofóbicas e ideais próximas ao governo russo. Le Pen deixou para trás posturas racistas e antissemitas de seu pai, mas manteve pautas anti-imigração. Le Pen já sugeriu a retirada do apoio da França à Ucrânia na guerra e que pretende deixar de lado políticas para amenizar o impacto do carbono, com mais incentivos a indústrias francesas. A expectativa é que RN governe de uma forma semelhante à gestão da premiê italiana, Giorgia Meloni, que, embora internacionalmente adote um discurso voltado à preocupação com o clima, internamente permite que ministros e aliados questionem o aquecimento global e os acordos climáticos.