Bar Parada Obrigatória, Adilsinho e Bernardo Bello: entenda o rastro de sangue e os lados na guerra do bicho
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O g1 explica quem é quem na disputa e narra a recente cadeia de crimes. Presos em operação nesta semana seguiram bicheiro ligado a Bernardo Bello um dia antes de sua execução; vídeo mostra novo ângulo de tiroteio em bar de Vila Isabel em 2023. Vídeo mostra homens de Adilsinho em tiroteio em 2023A Polícia Civil do RJ prendeu nesta terça-feira (11) 2 homens suspeitos de envolvimento em uma execução no ano passado. Um 3º investigado pelo crime, um PM, já estava encarcerado, também foi alvo de mandado de prisão.Essas prisões expõem a trama violenta entre quadrilhas de 2 contraventores, Adilsinho e Bernardo Bello, e têm ligação com outro assassinato, ocorrido nesta semana, perto de um bar alvo dessa disputa.O g1 explica quem é quem e narra a recente cadeia de crimes.Grupo dos bicheiros Adilsinho e Bello travam guerra no RioDivulgação/Portal dos ProcuradosNomes que você vai ver nesta reportagem:Do lado de AdilsinhoAdilson Oliveira Coutinho Filho, o Adilsinho: banqueiro do bicho em boa parte do Rio de Janeiro e responsável pela máfia do cigarro ilegal;Allan dos Reis Mattos, policial do 15º BPM (Caxias), preso;Marcos Paulo Gonçalves Nunes, gestor de caça-níqueis e considerado o número 2 na hierarquia. É irmão do coronel Claudio Luiz da Silva de Oliveira, condenado pela morte da juíza Patrícia Acioli. Foi preso. Segundo as investigações, era "umbilicalmente" ligado a Adilsinho.Vitor Luis de Souza Fernandes, preso. Foi ferido em um tiroteio no bar Parada Obrigatória. Foi filmado seguindo a vítima em Copacabana, um dia antes da morte de Fernando.Bar Parada Obrigatória, em Vila Isabelg1Do lado de Bernardo BelloBernardo Bello Pimentel Barboza, o Homem da Casa de Vidro: apontado como um dos chefes do jogo do bicho no Rio, está foragido; perdeu territórios para o rival AdilsinhoFernando Marcos Ferreira Ribeiro, o Fabinho, executado em 2023;Luiz Cabral Waddington Neto, contraventor confesso, foragido;Luiz Henrique de Souza Waddington, filho de Luiz Cabral, alvo de um atentado;Marco Antônio Figueiredo Martins, o Marquinho Catiri, braço armado de Bello e morto em 2022.E Antônio Gaspazianni Chaves, dono do Bar Parada Obrigatória, executado no último domingo. Segundo a polícia civil, o crime foi cometido pelo mesmo grupo responsável pela morte de Fernando e pela tentativa de homicídio contra Luiz Cabral.Marcos Paulo Gonçalves Nunes e Vitor Luis de Souza FernandesReprodução/TV GloboFatos importantesPolícia prende 2 suspeitos de monitorar vítima executada por disputas do jogo do bicho19 de novembro de 2022: Marquinho Catiri é executado na comunidade da Guarda, em Del Castilho. Bernardo Bello perde seu principal braço armado.5 de abril de 2023: Allan, Marcos Paulo e Vitor Luís são filmados seguindo Fernando Marcos Ferreira Ribeiro, o Fabinho, em Copacabana.6 de abril de 2023: Fabinho é executado em uma rua da Tijuca.14 de abril de 2023: Luiz Henrique, filho de Luiz Cabral, é alvo de uma emboscada no Sambódromo e leva 4 tiros. 15 de abril de 2023: um grupo abre fogo próximo ao bar Parada Obrigatória, e 2 homens saem feridos — justamente os presos nesta terça-feira.18 de abril de 2023: Luiz Cabral procura a polícia para denunciar a escalada da disputa e diz temer pelo filho.Último domingo (9 de junho de 2024): Antônio Gaspazianni Chaves, dono do Bar Parada Obrigatória, é executado a poucos metros do estabelecimento.Esta terça-feira (11): Allan, Marcos Paulo e Vitor Luis são alvos de mandados de prisão.Entenda a relação entre os crimesSegundo as investigações da Delegacia de Homicídios da Capital, Fabinho trabalhava para Bernardo Bello e gerenciava pontos de jogo do bicho em bairros da Zona Sul do Rio. Adilsinho, de acordo com a polícia, enviou seus homens para a região e mandou matar Fabinho, como forma de intimidar aliados de Bello.Para a execução de Fabinho, de acordo com a polícia, Adilsinho mobilizou o PM Allan, Marcos Paulo e Vitor Luis para vigiar o alvo. Eles foram flagrados por câmeras de segurança monitorando a vítima no dia anterior ao crime.Suspeitos foram presos por monitorar Fernando Marcos Ferreira Ribeiro na véspera de sua execuçãoReproduçãoCom as informações levantadas pelo trio, Fabinho foi morto em 6 de abril de 2023 com diversos disparos de fuzil, principalmente na cabeça. Segundo a Polícia Civil, ele estava acompanhado de 2 homens armados, seguranças dele, que fugiram no momento do ataque. Um dos seguranças relatou que integrantes da quadrilha de Adilsinho foram até um dos pontos de Bernardo Bello, menos de 2 horas após o crime, e disseram que eles teriam que sair de lá. Mensagem de Fabinho antes de morrer: "teve um assalto na rua, tiroteio"ReproduçãoA polícia também interceptou mensagens que mostram que Fabinho estava ciente que estava sendo monitorado e se assustou com os tiros pouco antes de ser executado: "Fala, mano, urgente, teve um assalto na rua, tiroteio"Procurado, o advogado Lucas Oliveira, que faz a defesa de Marcos Paulo, afirmou que as acusações não são verdadeiras e a inocência será provada no curso do processo.Filho de contraventor ferido Segundo as investigações, Adilsinho é suspeito de ter ordenado um ataque contra Luiz Cabral, mas a emboscada atingiu o filho dele, Luiz Henrique, que sobreviveu.A Delegacia de Homicídios acredita que o grupo usou as mesmas armas nos ataques ao comparar as cápsulas. A especializada afirma ter encontrado semelhanças com material apreendido em outros casos, como nas execuções do miliciano e contraventor Marquinho Catiri, considerado o braço armado de Bello; do segurança de Catiri, o Sandrinho; do policial militar Diego dos Santos Santana; do policial penal Bruno Kilier da Conceição Fernandes; e do policial civil João Joel de Araújo.Carro com marcas de bala perto do lugar onde Marquinho Catiri foi morto, na Zona Norte do RioReproduçãoO homicídio de Catiri, em novembro de 2022, é tratado como um marco no enfraquecimento de Bernardo Bello, segundo a Polícia Civil. A perda do braço armado seria sentida nos conflitos que ocorreram em 2023. Contraventor se expõeVídeo inédito mostra ataque a bar em Vila Isabel em guerra do jogo do bicho no RioAntes de ir à delegacia denunciar a tentativa de homicídio contra o filho, Luiz Cabral, segundo a polícia, comandou uma ação de represália a Adilsinho no Bar Parada Obrigatória. A investida, no dia 15, ocorreu durante uma troca de máquinas caça-níqueis. No confronto, Marcos Paulo e Vitor Luis foram atingidos e sobreviveram.Em depoimento na 20ª DP (Vila Isabel), Vitor Luís afirmou que estava trocando máquinas caça-níqueis com Marcos Paulo quando foi baleado. Ele ainda alegou que começou a trabalhar para a contravenção apenas três dias antes, porque estava desempregado. Já Marcos Paulo alegou que estaria pagando para usar as máquinas de Cabral, e que um desentendimento teria culminado na troca de tiros.(inserir vídeo, vivi tá editando)Um outro personagem aparece em vídeo durante o tiroteio, comandando os homens de Adilsinho. Segundo a polícia, ele é conhecido como Tenente Rafael. Ele é citado por Luiz Cabral como o líder do grupo que estava monitorando Fernando Marcos em Copacabana. Segundo Cabral, ele teria lhe dito: "Mete o pé, não mete mais a mão em nada, e some da área". Tenente Rafael, de camisa preta, aparece orientando homens investigados por ligação com Adilsinho após troca de tiros no bar Parada Obrigatória, em Vila IsabelReproduçãoCabral ainda disse à polícia que o tal Tenente Rafael estava falando com alguém no telefone. O contraventor afirma que perguntou ao homem se estava falando com Adilsinho, e ele disse que sim. Relação com AdilsinhoRafael do Nascimento Dutra, conhecido como Sem AlmaReprodução/TV Globo As investigações da DH demonstraram que Marcos Paulo tinha na sua agenda telefônica contatos de números internacionais que pertenciam a Rafael do Nascimento Dutra, o Sem Alma, ex-PM apontado como o chefe do grupo de extermínio que seria ligado a Adilsinho. Marcos Paulo aparece como um visitante frequente do condomínio dele, na Barra da Tijuca, assim como em trocas de mensagem com Sem Alma, que diz que vai ligar para o "01". Marcos Paulo em lista de visitantes de Adilsinho em seu condomínioReproduçãoA polícia tem indícios que o homem identificado como "01" ou "Patrão" nas conversas interceptadas seja Adilsinho.Em nota, a defesa do empresário Adilson Coutinho Filho afirmou que seu cliente é inocente, não possuindo qualquer relação com os fatos investigados.A execução mais recenteAinda não está claro por que Gaspazianni foi morto, mas a polícia afirma que foi uma represália da contravenção. Segundo a DH, homens armados saíram de um carro escuro e atiraram contra a vítima, um modus operandi que lembra outras execuções do mesmo grupo.Entre as linhas de investigação estão a resistência em ceder à máfia do cigarro e diferença nos repasses do dinheiro arrecadado com os caça-níqueis.O rival de Bernardo Bello investiu na produção de maços ilegais, antes contrabandeados do Paraguai, e já domina metade dos municípios fluminenses. Nas áreas sob seu controle, nenhuma outra marca pode ser vendida — e o dono do Parada Obrigatória pode ter se recusado a ceder.Também é considerada a hipótese de Gaspazianni ter ficado com parte dos valores das máquinas da contravenção.