Coletada próxima à UFPI, nova espécie de aracnídeo é descrita em área entre o Cerrado e Caatinga

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Coletada próxima à UFPI, nova espécie de aracnídeo é descrita em área entre o Cerrado e Caatinga
Esquizômidos foram coletados em uma fazenda no campus da Universidade Federal do Piauí, em matas ciliares e de galeria do Rio Parnaíba. Esquizômido macho da espécie Rowlandius ufpi

Pedro H Martins

Uma nova espécies de aracnídeo foi descrita por pesquisadores das universidades federais do Piauí (UFPI) e de Minas Gerais (UFMG) na última quarta-feira (29), na revista Zootaxa.

O registro do esquizômido Rowlandius ufpi se deu a partir de indivíduos coletados em matas ciliares e de galeria do Rio Parnaíba, na região Nordeste, entre o Cerrado e Caatinga.

Em 12 anos de coletas e estudos, vários deles foram encontrados em uma fazenda no campus da UFPI, o que influenciou na escolha do nome da espécie.

Na América do Sul, esses animais - que são parentes de escorpiões, aranhas e carrapatos - habitam florestas úmidas e cavernas de ecossistemas secos.

"Dentre outros detalhes, o esquizômido se diferencia de outros aracnídeos pela presença de um flagelo curto na parte posterior do abdômen. Este flagelo é modificado nos machos, para a dança nupcial. As fêmeas mordem o flagelo e os machos as conduzem na dança nupcial", explica Leonardo Sousa Carvalho, autor do estudo e aracnólogo da UFPI.

Esquizômido macho arrastando fêmea presa pelo flagelo para dança nupcial

Description of a new species of Surazomus (Arachnida: Schizomida), with comments on homology of male flagellum and mating march anchorage in the genus

De acordo com o artigo, a espécie é a sexta do gênero Rowlandius conhecida no Brasil, de um total de 62 existentes no mundo. Até o momento, 373 espécies de esquizômido são conhecidas pela ciência, sendo divididas nas famílias Protoschizomidae e Hubbardiidae.

Esse também é o primeiro esquizômido do gênero que não vive em cavernas e nem em florestas úmidas, condições onde são normalmente encontrados, mas na serapilheira de florestas secas do Brasil (Caatinga e Cerrado).

Além de ressaltar que mais espécies potencialmente ameaçadas de esquizômidos aguardam descoberta, a publicação também destaca a relevância da amostragem de longo prazo para descrever adequadamente essas espécies.

Esquizômido fêmea da espécie Rowlandius ufpi

Pedro H Martins

Mudanças no ambiente e conservação

Segundo as observações, indivíduos coletados em 2012 e 2013 foram encontrados em serapilheira densa de uma mata de galeria, situada próxima a um pequeno riacho temporário.

No entanto, durante a estação seca em 2012, 2013 e 2014, não foi possível encontrar nenhum indivíduo no mesmo local. A hipótese é que os esquizômidos se enterraram naqueles momentos, como estratégia contra a dessecação.

No final de 2017, o local de amostragem foi gravemente danificado por práticas agrícolas de corte e queima. A mata secundária de galeria foi substituída por uma plantação de banana e nenhum indivíduo adicional foi encontrado no local original ou próximo dele.

Em 2020, os pesquisares encontraram os aracnídeos novamente, em uma área muito limitada (de cerca de 100 x 30 metros), dentro da mata ciliar do Rio Parnaíba.

Esquizômido Rowlandius ufpi macho

Leonardo S Carvalho

Pensando nesse histórico e em fatores listados abaixo, a espécie foi considerada Criticamente Ameaçada (CR), de acordo com critérios da Lista Vermelha da IUCN. As razões incluem:

Extensão estimada de ocorrência desta espécie é inferior a 1 km²;

Espécie possui apenas uma população conhecida;

Diminuição da qualidade do habitat devido às atividades humanas;

Ausência da espécie nas unidades de conservação;

Possibilidade de extinção da espécie com base em um único evento de derrubada e queimada, incêndio ou inundação

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