Jornal Nacional acompanha resgate de gaúchos ilhados em Porto Alegre (RS)
Nesta terça-feira (14), William Bonner, o repórter cinematográfico Piero Caputo e o técnico de áudio Joaquim Gomes acompanharam um trabalho que é rotineiro nesse desastre.
Nesta terça-feira (14), William Bonner, o repórter cinematográfico Piero Caputo e o técnico de áudio Joaquim Gomes acompanharam um trabalho que é rotineiro nesse desastre. JN acompanha trabalho do Corpo de Bombeiros nas ruas de Porto AlegreNesta terça-feira (14) de manhã, William Bonner, o repórter cinematográfico Piero Caputo e o técnico de áudio Joaquim Gomes acompanharam um trabalho que tem sido rotineiro em Porto Alegre.Todos os dias, o dia todo, um ponto do bairro São João, na Zona Norte de Porto Alegre, reúne dezenas de pessoas envolvidas em operações de resgate. Muitos são voluntários e estão cansados. "A gente sabe que tem bombeiro dando a vida, a Guarda Nacional está dando a vida. Mas no nosso ponto de acesso, onde entrou mais de 4,5 mil pessoas, onde entrou mais de 1,5 mil animais, onde nós não tivemos nenhum óbito, nós não tivemos nenhum acidente de trabalho, nós estamos esgotados", diz o voluntário Luis Fernando Petuco.A voluntária Luiza dá uma ideia da complexidade desse trabalho:"É um dilema grande, a gente quer salvar nodo mundo que está lá dentro, a gente não quer deixar ninguém passando fome, ninguém passando sede. A gente não quer que ninguém doente fique lá também, sem seus remédio. Mas a gente precisa tirar essas pessoas, porque a água não vai baixar tão cedo e a gente não sabe até quanto tempo a gente vai conseguir ter essa equipe aqui que está levando coisa, que está conseguindo tirar gente, que está conseguindo fazer toda essa estrutura. Então, a gente precisa que as pessoas saiam de casa", afirma.O major Daniel Moreno, do Corpo de Bombeiros, tem 15 anos de experiência. Ele diz que o trabalho da corporação é de 24 horas por dia."O objetivo do comando da operação é que as pessoas que insistem em não sair, e se coloquem em risco, embora nós venhamos a respeitar a opção de cada um, mas que elas venham a sair porque já estão a vários dias com racionamento de alimentos, racionamento de água potável. Tem, agora, o frio. Então, nessa segunda onda, a gente entende que é prudente que eles saiam", diz ele. O Jornal Nacional embarcou com os soldados Assunção e Da Silva, o resgatista e o operador do bote dos bombeiros. O major Moreno pilota uma moto aquática e lidera o comboio. "Este é um dos maiores perigos para as embarcações que transitam agora em Porto Alegre, o carro submerso. Você vê que só tem um pedacinho aparecendo em cima. Isso pode provocar um acidente e tanto. Então, o cuidado é muito grande aqui nessas águas nas ruas da cidade", relata William Bonner.Logo os bombeiros encontram Mateus, que pediu para ser levado."Vim hoje pegar roupa de frio, minha família está desde o começo de enchente. Estou na casa da esposa, sai na segunda", conta Mateus. Bonner: "E você não vão sair, não, gente?"Mulher: "Não vamos sair porque os vizinhos saíram e vieram e roubaram tudo. Medo de a gente sair e o pouco que a gente tem levar, né."Perto dali, dois homens se arriscam com água até a cintura para avaliar prejuízos da enchente. "Tem que cuidar do que é nosso. A empresa é nossa, de equipamento de som, fui levantar o que der para cima", diz um homem.Bombas, diques e comportas: saiba para que serve cada item do sistema anticheias de Porto AlegreA equipe de resgate usa um mapa digital para chegar a endereços específicos. Os bombeiros receberam informações de que tem uma moradora em um prédio que estava aqui na segunda (13), mas que não queria sair. Eles foram na tentativa de resgate, mas depois de apitar, gritar se anunciando, ninguém respondeu. A decisão agora é abrir a porta e tentar descobrir se tem alguém que não pode responder lá dentro."Se é uma idosa que não sai de casa e não responde chamada, a gente está bem preocupado", diz um bombeiro. Do outro lado da rua, a vizinha não parece preocupada. Vizinha: Ontem conversei com ela, ela estava bem.Bonner: O que faz com que a senhora fique aqui mesmo nessas condições tão difíceis?Vizinha: Acho que está seguro, está tranquilo. Não nos falta nada, apenas a luz. A água já voltou, a gente está seguro porque só entrou água no primeiro andar. Então a gente acredita que a gente está bem aqui.Bonner: A senhora tem esperança de que as águas baixem em quantos dias?Vizinha: Um mês.Bonner: Se for preciso, a senhora vai passar um mês aí em cima?Vizinha: Sim. Minhas irmãs são todas de Eldorado e elas já estão em abrigos, e a outra mora aqui no bairro também e já saiu. Então não tem opção.Bonner: A senhora está se sentindo segura aí?Vizinha: Sim, estou.No quarteirão vizinho, encontramos a aposentada Karin na janela de um hotel. Ela tem a companhia de outras quatro pessoas."Eu estava em Eldorado, na minha casa, daí na madrugada de quarta para quinta, 2h começou a encher meu bairro. Vim com irmão e dois cachorros. Na sexta-feira começou a encher d'água aqui. Não sabia que esse hotel também enchia d'água. Tem muita comida aqui nesse hotel. A gente tem pouca água. Nós pegamos bastante da chuva, e estamos nos virando sem água, sem luz, banho de lencinho. Muito difícil, muito difícil. Mas a gente vai sair dessa", diz a aposentada Karin Schneider. Minutos depois, o Jornal Nacional testemunhou o resgate de dois rapazes que tinham chegado mais cedo para ver como estava a loja deles."Ali na esquina a gente vê um caminhão da Brigada Militar que ficou parado aqui na água", relata William Bonner. Ao todo, a operação resgatou três pessoas que tinham entrado nesta terça mesmo nas áreas inundadas. Todas as que estão ilhadas há dias ficaram lá e vão continuar recebendo a oferta de ajuda."O indivíduo tem toda a liberdade para ficar ou sair. Se ele quiser sair, a gente tira. Se ele quiser ficar, a gente respeita", reforça o major Moreno.A Secretaria da Segurança Pública do Rio Grande do Sul afirmou que determinou o emprego de todo o efetivo da Brigada Militar e da Polícia Civil no combate à criminalidade; que tem 27,5 mil servidores atuando com o reforço de policiais de outros seis estados e da Força Nacional; e que já prendeu 95 pessoas.No site paraquemdoar.com.br você encontra formas de ajudar as famílias que estão sofrendo as consequências da chuva no Sul.LEIA TAMBÉMNúmero de moradores fora de casa após temporais no RS é superior à população de oito capitais no BrasilLula reúne ministros para fechar novas medidas ao RS, mas adia anúncio de açõesBanco do Brics vai destinar R$ 5,7 bilhões à reconstrução do RS após chuvas, diz Dilma