Vídeo: estudante de medicina perde 97% da visão após ter dengue; especialista explica sequela rara

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Vídeo: estudante de medicina perde 97% da visão após ter dengue; especialista explica sequela rara
Isabella Kemp começou a perder a visão seis dias depois dos primeiros sintomas. Quando procurou um especialista para reverter o quadro, já estava com 3% da visão de um olho e 20% do outro. Segundo infectologista, condição é raríssima. Jovem fica com sequelas e perde parte da visão após ter dengue

"Agradeço por cada luzinha que vejo", esse é o relato de Isabella Kemp, jovem de 24 anos que perdeu 97% da visão do olho esquerdo e 80% do direito após ser diagnosticada com dengue, sequela considerada raríssima. No último ano do curso de Medicina, a jovem compartilha a própria experiência para ajudar outras pessoas enquanto faz tratamento para recuperar a visão. Veja o vídeo acima.

Segundo a estudante, ela teve a dengue "clássica". Os sintomas começaram no dia 10 de fevereiro e, já no dia seguinte, 11, procurou atendimento com dores musculares, na cabeça e nas articulações.

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Isabella recebeu o diagnóstico de dengue em um domingo e, ao longo da semana, os sintomas não mudaram. No entanto, na sexta-feira (16), apareceu prurido na região das mãos e dos pés, a famosa "coceira". No mesmo dia, a visão foi afetada.

A jovem narra que tudo começou com um embaçamento no campo visual do olho esquerdo, que foi piorando progressivamente. Dois dias depois, na segunda-feira (19), ela foi até a cidade de São Paulo para se consultar com um médico que já havia atendido um paciente com sintoma parecido. Neste ponto, Isabella estava com apenas 3% da visão de um olho e 20% do outro.

"Em São Paulo, o médico me informou que o vírus teve um tropismo pela retina dos meus olhos. O vírus se identificou pela retina e viu nela um ambiente favorável para se replicar, e por isso, meu sistema imune começou um processo inflamatório para tentar impedir a proliferação. Com o processo inflamatório, minha visão foi afetada. E por conta da grande inflamação que ocorreu na retina, teve alguns danos que podem ser irreversíveis", explicou.

Isabella está no último ano do curso de Medicina, na UFMS.

Reprodução

"Hoje, minha visão não é a mesma de antigamente. Tenho dificuldade para diferenciar algumas cores, preciso usar o modo de acessibilidade do celular e do computador, onde as letras são maiores e as cores são mais nítidas, pois hoje, estou enxergando com melhor nitidez apenas cores fortes como preto e amarelo. Também, meu olho esquerdo ficou com um embaçamento na região central da visão, mas que é compensado pelo olho direito, que hoje está melhor recuperado", informou Isabella.

Isabella também foi informada que, atualmente, não existe um prognóstico da condição. Como a dengue é causada por um vírus, ainda não há tratamentos específicos que combatem ou impeçam a proliferação do invasor no organismo. A paciente só saberá se vai haver algum grau de sequela definitiva com o tempo.

Contudo, o quadro de saúde de Isabella é esperançoso. Com poucas semanas de tratamento desde o início do sintoma, ela está com 80% da visão.

"Hoje eu estou bem animada com o processo de recuperação, pois a cada dia eu estou melhorando um pouquinho mais, sem deixar essa situação me abalar", destacou a jovem.

Condição é rara

O médico infectologista Rivaldo Venâncio, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), explica que a dengue é uma doença sistêmica, ou seja, ela comete vários órgãos e tecidos do organismo, em diferentes intensidades.

Mesmo que alguns órgãos não sejam afetados, há a circulação do vírus pela corrente sanguínea que pode provocar algumas alterações. Segundo o infectologista, fígado, coração, rins e até os olhos podem ser afetados, como foi o caso da Isabella.

"Eu já vi casos de comprometimento hepático bem, bem grave. A resposta imunológica provocada pela presença do vírus pode causar danos a alguns tecidos ou alguns órgãos específicos. Nós temos também comprometimento neurológico, por exemplo, síndrome de Guillain-Barre ou encefalite. Felizmente, são observações muito, muito, muito raras", destacou o médico.

Além de destacar que essas sequelas são raríssimas, Rivaldo ressalta que normalmente elas são revertidas.

"No entanto, infelizmente, não são 100% dos casos com comprometimento grave, como os envolvimentos de coração e fígado (principalmente), que se recuperam plenamente", completou.

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