G1 nacional
'Nuvem' de fumaça foi percebida em ao menos oito bairros da capital roraimense, como o Cidade Satélite. Desde 1° de fevereiro deste ano, Roraima teve 689 focos de queimadas. Fumaça causada por queimadas, no bairro Cidade Satélite, em Boa Vista.Alessandro Leitão/Rede AmazônicaA qualidade do ar em Boa Vista foi classificada como "péssima" na noite dessa terça-feira (20) por conta das "nuvens" de fumaça que encobriram as ruas da cidade. O problema ocorre em meio aos incêndios, queimadas e focos de calor que se espalharam além das áreas rurais para a capital.O índice de qualidade é da Plataforma Selva, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), que monitora em tempo real queimadas e o índice da qualidade do ar na região Amazônica.Numa escala que vai 0 a 160 µg/m3, Boa Vista chegou a atingir 133.5 µg/m3, às 23h até os últimos minutos da noite. Na manhã desta quarta-feira (21), as nuvens se espalharam e o ar de Boa Vista voltou a ser classificado como "muito bom". A "nuvem" cinzenta que se intensificou na cidade pela segunda noite seguida foi resultado do fogo causado pelos focos de calor em municípios do estado que, há cerca de um mês, estão em chamas, e nas áreas urbanas e rurais de Boa Vista.A fumaça foi percebida em bairros como Cidade Satélite, Canarinho, Bairro dos Estados, Joquei Clube, Alvorada, Operário, São Francisco, Caimbé e Caranã.Qualidade do ar é classificada como 'péssimo' e 'muito ruim' em plataformaReprodução/Plataforma SelvaQueimadas De acordo com dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisa espaciais (INPE), dos 15 municípios do Brasil com mais focos queimadas, 14 são de Roraima. Mucajaí está em primeiro lugar com 188 focos, seguido por Iracema (72 focos), Caracaraí (67), Amajarí (55) e Alto Alegre (48). O dado é desta quarta-feira (21).Três municípios de Roraima - Uiramutã, Normandia e Amajari - decretaram situação de emergência devido à estiagem. Acesse o canal do g1 Roraima no WhatsAppFumaça causada por queimadas toma conta de ruas de Boa Vista, em RR.Arquivo pessoalProblemas causados pela qualidade do arProfessora do curso de medicina da Universidade Federal de Roraima (UFRR), a médica alergista e imunologista Laila Sabino Garro explica que a fumaça de incêndios florestais pode trazer sérios impactos para a saúde, especialmente para os pulmões, por isso essa classificação do ar pode ser "preocupante". Entre os sintomas estão tosse, irritação na garganta, falta de ar e desconforto respiratório. Isto porque a fumaça contém partículas finas e substâncias químicas que causam danos as células dos pulmões, como inflamação, morte celular e alterações celulares que podem até predispor ao câncer de pulmão. Além de, enfraquecer o sistema imunológico das vias respiratórias, tornando as pessoas mais suscetíveis a infecções respiratórias, como pneumonia. "A fumaça causa um processo irritativo nas as vias respiratórias de modo que pacientes com asma brônquica, bronquite crônica ou enfisema, podem piorar dos sintomas e levar a crises agudas dessas condições [...] A exposição frequente e prolongada à fumaça de queimadas pode levar a danos pulmonares permanentes e aumentar o risco de desenvolver doenças pulmonares crônicas, como doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e câncer de pulmão", explicou. Para evitar os problemas trazidos pela exposição à fumaça, a médica recomenda que sejam evitadas áreas afetadas por queimadas sempre que possível. Entre as outras recomendações estão:Fique dentro de casa: Mantenha as portas e janelas fechadas para evitar a entrada de fumaça. Use um sistema de filtragem de ar, se disponível.Use máscaras respiratórias: Em áreas com muita fumaça, use máscaras N95 ou PFF2 para filtrar as partículas finas presentes na fumaça.Evite atividades ao ar livre: Evite fazer exercícios físicos ou atividades extenuantes ao ar livre enquanto a fumaça estiver presente.Use umidificadores: Manter o ar úmido pode ajudar a aliviar a irritação nas vias respiratórias causada pela fumaça.Siga as orientações das autoridades locais: Fique atento aos alertas e recomendações das autoridades de saúde e ambientais locais sobre como se proteger da fumaça.Se você estiver com problemas respiratórios ou sentir desconforto devido à exposição à fumaça, procure ajuda médica imediatamente.Queimadas e período seco em RoraimaIncêndio atinge Amajari, Norte de RoraimaSamantha Rufino/g1 RRAté essa segunda, Amajari liderava o ranking de municípios com focos de calor, com 138, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisa espaciais (INPE). O município é seguido por Caracaraí, Mucajaí e Rorainópolis, que apresentaram 95, 85 e 69 focos, respectivamente (veja detalhes mais abaixo). Com 689 focos de calor, Roraima ocupava o primeiro lugar no ranking nacional de fevereiro de 2024 até essa segunda-feira. Atualmente, o estado enfrenta o período de seca, agravado pelo fenômeno El Niño, que aquece as águas do Oceano Pacífico e freia a atuação de frentes frias no Brasil. Por conta disso, incêndios e queimadas tendem a se espalhar com facilidade. Conforme o governo de Roraima, foram expedidas apenas duas licenças para queima controlada, o que demonstra que o fogo que atinge a região é de origem criminosa. De acordo com o Corpo de Bombeiros, militares tem atuado em todos os municípios do estado, desde novembro do ano passado, com "ênfase nas regiões mais críticas". Atualmente, as bases instaladas estão nos municípios de São João da Baliza, Mucajaí, Iracema, Cantá, Bonfim, Amajari e Alto Alegre. O monitoramento do INPE aponta que Roraima liderava o ranking de focos de calor até segunda-feira (19). Foram registrados 689 focos no estado, 151 a mais que o segundo lugar, que ficou com estado de Mato Grosso, com 538 registros. Em terceiro está o Pará, com 170 focos. Os focos de calor são zonas que há ressecamento e elevação de temperatura que podem ocasionar incêndios. Roraima enfrenta o período de seca, que deve se estender até abril. Além de ocupar o primeiro lugar no ranking como o estado que mais registrou queimadas nos dois primeiros meses de 2024, Roraima tem 9 dos 10 municípios do Brasil com os maiores focos. No dia 9 de fevereiro, o Ministério do Meio Ambiente declarou estado de emergência ambiental para riscos de incêndios florestais em Roraima entre os meses de setembro de 2024 a abril de 2025. Na ocasião, o governo de Roraima informou que instituiu a Operação Verão Seguro e tem acompanhado as mudanças climáticas e adotando medidas estratégicas para minimizar as consequências da seca e da estiagem à população dentro do que compete a cada entidade do Executivo estadual. Brigadista usa técnica de aceiro para controlar incêndioSamantha Rufino/g1 RRO período seco também tem afetado o nível do Rio branco, responsável pelo abastecimento de água na capital. Atualmente, o nível do rio está em - 0,06 centímetros - média considerada baixa. Em 2016, quando o estado enfrentou uma das piores secas da história, o volume de água ficou em -59 centímetros. Incêndios florestais atigem municípios de RoraimaLeia outras notícias do estado no g1 Roraima.