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O país é uma monarquia parlamentarista. O chefe de Estado é o rei, que só tem poder simbólico. O chefe de governo é o primeiro-ministro. Mas os britânicos não escolhem essa figura diretamente. Entenda. Eleição no Reino Unido: boca de urna prevê pior derrota da história do Partido ConservadorOs britânicos foram às urnas nesta quinta-feira (4) para escolher um novo Parlamento. As projeções preveem a volta do Partido Trabalhista ao poder na maior derrota da história para os conservadores.O Reino Unido que votou nesta quinta é um país na ressaca de uma crise de custo de vida. Crise que, no auge, viu a inflação bater o nível mais alto em 40 anos; onde jovens - ao menos os não-herdeiros - não conseguem nem sonhar em comprar uma casa; onde o Sistema Público de Saúde, que sempre foi referência, anda cheio de problemas. E um país que paga até hoje a conta do Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia, quatro anos atrás.Tradicionalmente, a disputa fica entre os dois maiores partidos do país. Dessa vez, tínhamos de um lado o atual primeiro-ministro, Rishi Sunak, do Partido Conservador. Do outro, Keir Starmer, o líder do Partido Trabalhista, historicamente a principal força da esquerda britânica.Starmer foi um jovem da esquerda-esquerda. Mais recentemente, foi chegando bem para o centro e puxou o partido junto. Carisma nem de longe é seu forte. Está prestes a virar primeiro-ministro sendo uma figura morna. Há semanas, as pesquisas de intenção de voto já projetavam a vitória do Partido Trabalhista. Se essa previsão se confirmar no resultado oficial, os conservadores vão sair o poder no país depois de 14 anos. Nesse período, o partido teve cinco primeiros-ministros. De 2010 a 2016, David Cameron: o pai do Brexit. Ele mesmo até era contra a saída do Reino Unido da União Europeia, mas para agradar o eleitorado mais à direita prometeu fazer um plebiscito. A extrema-direita venceu e Cameron saiu de cena.De 2016 a 2019, Theresa May: a tia do Brexit, que entrou na dança. Tentou de tudo que é jeito aprovar os detalhes burocráticos e econômicos da saída do bloco europeu, mas enfrentou um Parlamento tinhoso. Foi embora abalada.De 2019 a 2022, Boris Johnson: o colecionador de crises. Foi ele que desembaraçou o Brexit e que minimizou o coronavírus. Depois, se infectou, foi até para a UTI e passou a levar a coisa a sério. Mais ou menos; deu vacina para o povo, mas deu também festinhas na sede do governo no meio da pandemia. Caiu.No lugar dele, entrou Liz Truss: a breve. Foram míseros 45 dias no poder. Um tabloide comparou: menos tempo do que a vida útil de uma alface. O Partido Conservador britânico virava chacota. Rishi Sunak foi a pá de cal.O Jornal Nacional ouviu o professor brasileiro Lucas de Abreu Maia, da Universidade de Bristol, na Inglaterra. Lucas é cientista político e estuda campanhas eleitorais." As pessoas sentem que o poder de compra delas está baixíssimo. Você tem estagnação econômica, o salário real hoje é menor do que em 2007. É uma situação econômica que eles sentem, de fato, que é um país em decadência. Eles vão pegar um governo quebrado", afirma.A pesquisa de boca de urna aponta uma vitória com larga vantagem para o Partido Trabalhista, que deve levar mais da metade das vagas no Parlamento. A projeção é de que das 650 cadeiras, os trabalhistas fiquem com 410, o dobro do que têm atualmente. Já o Partido Conservador deve sofrer uma derrota esmagadora e despencar de 344 vagas para 130. Pode ser o pior desempenho da história do partido.O líder trabalhista e provável primeiro ministro Keir Starmer esteve à frente da oposição nos últimos quatro anos, é advogado de formação com passagem pela Universidade de Oxford e já chefiou o Ministério Público na Inglaterra. A expectativa é de que o resultado oficial seja anunciado em breve.