Bonecos, papéis de gênero e hierarquia: o que é a constelação familiar e como ela virou instrumento controverso no Judiciário
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Representação com bonecos, em um tatame ou até na água; papéis de gênero e determinações de como homens e mulheres devem se comportar; hierarquia. A constelação familiar, que fez o Conselho Federal Psicologia emitir, neste ano, nota destacando incongruências éticas na prática em consultórios, também é usada pelo Judiciário para resolver conflitos em Varas da Família há mais de uma década. "Já vi constelações, no campo jurídico, em que tinha representantes, por exemplo, representando o delito, representando a morte, representando uma pedra de crack, por exemplo", relata Mateus França, mestre em Direito e que estuda o uso das constelações no campo jurídico brasileiro. Em entrevista ao podcast O Assunto desta quarta-feira (4), França também explica como a questão dos papéis de gênero é muito forte na constelação familiar. "Ela é muito essencialista, muito determinista de como homens e mulheres devem se comportar. inclusive os papéis que são assumidos por homens mulheres. E também hierarquia mesmo entre quem veio antes e quem veio depois, entre pais e filhos, entre o primeiro esposo ou a primeira esposa e o segundo esposo, a segunda esposa... "São colocadas essas hierarquia de uma forma muito determinista, como se todas as famílias precisassem desse comportamento para estarem num bom funcionamento familiar. E isso vai, sim, na contramão de vários avanços que a gente teve."Mateus cita como exemplo o pedido de um filho por pensão. "Eu já vi discursos, por exemplo, de que um filho pedir pensão ao pai violaria esse direito da hierarquia porque o filho está se colocando na hierarquia a que não pertence, se colocando de igual para igual com o pai, quando ele é supostamente hierarquicamente inferior."O papel do juiz também no momento em que acontece a constelação também não é claro. "Varia bastante. Não existe muito um padrão de como isso é aplicado no judiciário, o que também é parte do problema", avalia FrançaPor outro lado, psicólogos que são a favor da constelação familiar dizem que apesar de faltarem estudos científicos que comprovem a eficácia da prática, eles veem resultados positivos para que os pacientes resolvam os seus conflitos ali, que superam os seus traumas de forma rápida. É o que explica Silvia Haidar, repórter do jornal Folha de S. Paulo e autora do blog Saúde Mental.Silvia, que também falou ao podcast, explicou as origens da constelação, método desenvolvido por um padre alemão chamado Bert Hellinger. "A constelação familiar foi desenvolvida por um alemão chamado Bert Hellinger, que era padre e foi missionário na África do Sul. Quando ele voltou da África do Sul para Alemanha, ele desenvolveu as bases da constelação familiar. E a constelação familiar é considerada uma técnica terapêutica que mistura elementos de outras técnicas como o psicodrama, que tem as encenações dramáticas, e a gestalt terapia, que enfatiza o paciente se conhecer e se conscientizar no aqui e agora."Ouça a íntegra do podcast aqui. Como a constelação familiar é usada para facilitar acordos no Judiciário?Constelação familiarRafael Ottoni/Secretaria de Saúde do DFVEJA CORTES DO PODCAST O ASSUNTO EM VÍDEO