Era o ano de 1898 e em 11 de setembro, nascia, no Aracati, Almeron Caminha Monteiro, o Patriarca dos Caminhas no Amazonas. O arigó passou da banda ruim. Conheceu a vontade de comer e não havia comida, conheceu a sede e não havia água. Resolveu chutar o balde seco e navegar para o Amazonas, onde o ouro nascia nas árvores e era extraído de uma árvore chamada seringueira. Chegou a Manaus e foi mandado para Remate de Males, um município com cinco casas e um porto. Era um porto de lenha, onde os barcos carregavam a madeira abundante para as suas fornalhas alimentarem os motores nos longos percursos dos rios amazônicos.
Ainda novinho, aos vinte e cinco anos, foi para Eirunepé, município às margens do Rio Juruá, o rio mais sinuoso do mundo, e possuidor da maior quantidade de seringueiras nativas do planeta, por onde escorriam o látex da borracha, tesão dos ingleses, que desde Drake, o pirata, adoravam roubar tudo de um país e dominá-lo, para depois de dilapidá-lo, entregar à própria sorte.
O Patriarca Almeron Caminha viveu toda a saga da borracha, ajudou os aliados a embarcarem as "pelas de borracha" em aviões como Catalina e DC-3, para que os tanques Aliados tivessem o sucesso contra as tropas nazistas de Rommel, na África, pois seus tanques quebravam, pela falta de borracha para as durezas que o deserto impunha.
O Patriarca Almeron foi guindado a Prefeito de Eirunepé e o passo seguinte foi a Assembleia Legislativa do Amazonas. O arigó sabia fazer política, além de sonetos, música e cantos.
O Patriarca era do Babado!
Ano de 2024, Patriarca e filhos fazendo festa no Céu, e sentindo que a turma daqui de baixo, uma camada acima do purgatório e duas para o inferno, não estava fazendo as festas que o time de cima fazia para agregar a imensa família e resolveram intervir. As nossas Caminhadas eram festas ótimas, com quinze a vinte pessoas e muito animadas, onde bebíamos, comíamos, cantávamos, conversávamos e esquecíamos até de recitar os sonetos do Patriarca Almeron, fã número um de Olavo Bilac, Paula Nei e do Padre Antonio Thomaz, o Príncipe dos Poetas Cearenses.
As "meninas”e os "meninos"outorgaram, a mim, em sessão secretíssima, o honroso Título de Patriarca. Gelei e resolvi levar pra frente o que os fundadores gostariam que acontecesse ou o Céu mandaria uma outra seca, muitas vezes pior que as três enchentes e duas secas que conheceram.
Resolvi pedir ajuda das "meninas”e convoquei a todos os Caminhas que tínhamos notícia, através do estudo avançado da nossa “Árvore Genealógica", cuidadosamente feito pelo Hamilton e pela Débora. Ele em Manaus e a Debrite na gelada fronteira dos Estados Unidos com o Canadá.
Depois do Cisma e a Diáspora dos nossos serfaditas (judeus ibéricos), fomos encontrar Caminhas: nos Estados Unidos, Canadá, Bolívia, São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e conseguimos juntar, em Manaus, sessenta e sete Caminhas e amigos da família.
O Serafim Corrêa, amigo, ex-prefeito de Manaus e atual secretário de Indústria, Comércio e Tecnologia do Amazonas, escreveu:
"Vocês estão edificando e fazendo a coisa mais fraterna. É bonito manter a tradição".
A festa foi bonita, parte da cidade soube da nossa reunião e mandou os parabéns, pegando o mote para fazer novas festas desse tipo e recapturar uma tradição que está se desfazendo em uma capital com quatro milhões de habitantes e com a chegada de muitos irmãos de outros Estados brasileiros que se tornaram amazonenses.
Assim foi feita a nossa Caminhada, o Encontro dos Caminhas, estopim para Silvadas, Ferreiradas, Araujadas e outras festas que sempre aconteceram e estavam sendo esquecidas e diminuídas, uma exigência da crescente brutalidade das cidades e da dispersão das famílias.
Roberto Caminha Filho, economista, Patriarca e torcedor do Nacional Futebol Clube.
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