Professora que precisou de transplante do coração há 25 anos diz que assunto ainda é tabu no Brasil: 'Devolve a vida às pessoas'

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Professora que precisou de transplante do coração há 25 anos diz que assunto ainda é tabu no Brasil: 'Devolve a vida às pessoas'
Dia Nacional da Doação de Órgãos é celebrado nesta quarta-feira (27). Relato de Bárbara Francine, de Mairinque (SP), é o mesmo de milhares de pessoas que tiveram a vida salva por 'anjos anônimos'. Bárbara foi diagnosticada com apenas seis meses de vida, mas conseguiu o transplante no fim do prazo

Arquivo pessoal

Seria uma caminhada simples de uma adolescente de 15 anos pelas ruas de Sorocaba, no interior de São Paulo, mas o cronograma foi drasticamente alterado quando Bárbara Francine sofreu uma parada cardiorrespiratória. Ali seria o início de uma luta contra o relógio, já que, um mês depois, a jovem recebeu o diagnóstico de que teria apenas mais seis meses de vida.

A história de Bárbara, no entanto, começa muito antes. Hoje com 41 anos, a professora, que mora em Mairinque (SP), conta que nasceu saudável, mas, ainda na infância, passou a sofrer com inúmeros episódios de pneumonia.

"O que os médicos achavam que era pneumonia na verdade já estava ligado ao meu coração", relembra.

O Dia Nacional da Doação de Órgãos é celebrado nesta quarta-feira (27). O relato de Bárbara é o mesmo de milhares de pessoas que tiveram a vida salva por "anjos anônimos", como ela mesma declara.

Diagnóstico grave

Com 15 anos, Bárbara tinha o peso de uma criança de dez

Arquivo pessoal

Os sintomas do problema cardíaco apareceram cedo, logo aos três anos. Com 15, Bárbara tinha o peso de uma criança de dez. As limitações a impediam de ir para a escola e de ter uma vida normal.

Ela conta que foi preciso passar com três médicos diferentes até chegar ao diagnóstico de miocardiopatia restritiva.

"[O pediatra] olhou e percebeu que o caso não era para ele. Fui encaminhada para um pneumologista de Sorocaba, que praticamente descobriu esse meu problema do coração. Fui encaminhada para uma cardiologista infantil e foi ela que diagnosticou a doença grave, que precisava de um hospital de referência", relembra.

Como funciona um transplante de coração?

Bárbara saiu de um hospital de Sorocaba para o Instituto do Coração (Incor), em São Paulo, onde, ainda aos quatro anos, soube que precisaria de um transplante. "Mas não seria naquele momento por vários fatores: eu estava bem e iam tentar, de forma paliativa, o tratamento medicamentoso", explica.

Foi então que, em agosto 1997, aos 15 anos, Bárbara sofreu a parada cardiorrespiratória. "Meu coração já não estava bom. Dali em diante, a situação [do coração] se agravou. Em setembro, fui internada para mais exames específicos no Incor e foi definido que eu tinha seis meses de vida e que minha única chance era um transplante."

Como se a vida já não pregasse muitos desafios, Bárbara encarou mais um de cabeça erguida. A notícia de que havia um doador compatível veio aos "45 do segundo tempo", no sexto mês de espera.

"Eu esperei por seis meses por alguém compatível. Estava bem na reta final e hoje estou aqui, viva e bem", celebra.

Veja as etapas do transplante de coração

Arte/g1

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O transplante de Bárbara foi feito no próprio Incor. 25 anos após o procedimento, a professora ainda não conhece a família da doadora, mas se sente grata por cada ação que faz no dia a dia.

"Sempre tive vontade de saber quem era, mas eu sei que era uma menina. Foi através desse anjo, dessa menina, que estou viva. Pela família dessa pessoa que, mesmo em um momento de tanta dor, se sensibilizou com a minha situação, que é a situação de várias pessoas hoje em dia", relata.

Em entrevista à TV TEM, a mãe de Bárbara, Luiza Camargo de Almeida, conta que apoiar a filha durante todo o processo foi essencial para superar o medo do episódio.

"A minha família é uma joia que Deus me deu. É o meu porto seguro. Gratidão à minha família e à família do doador. Não tem como você pedir um coração. Você tem que entregar, confiar e agradecer", disse.

Mãe de Bárbara conta que apoiar a filha durante todo o processo foi essencial para superar o medo do episódio

Reprodução/TV TEM

Apoio para quem precisa

Há sete anos, Bárbara, que tem como objetivo ensinar crianças em uma sala de aula, decidiu ter outra missão: compartilhar experiências e apoiar outros pacientes que viveram ou vivem a mesma situação que ela.

"A doação de órgãos infelizmente ainda é um tabu grande no Brasil, até porque está atrelado à morte. Mas a gente precisa falar mais sobre isso. Muitas vezes, no Brasil a gente tem uma negação grande, uma quantidade grande de 'não' para doação de órgão. Eu tento fazer, de uma forma muito simbólica, porque a gente é muito pequenininho dentro de um mundo tão grande. Mas no que eu posso eu ajudo e auxilio", diz.

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A professora afirma que passou a viver apenas após os 16 anos, quando recebeu o novo coração. Atualmente, ela tem uma vida ativa "até demais", como diz ouvir dos amigos.

"Eu vivo normal. Acho que vivo 'mais normal que muita gente' (risos) [...] Sou professora, pós-graduada, efetiva em concurso público como professora de educação infantil em São Roque (SP) e de ensino fundamental I em Mairinque, cuido da minha casa, das minhas filhas, do meu marido, porque homem precisa de cuidados, assim como uma criança (risos) e faço crossfit."

"Sou a prova viva de que a doação de órgãos salva vidas e, muito mais do que salvar, devolve a vida às pessoas. Estou salva graças à doação de órgãos", completa.

*Com informações da TV TEM

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