Homem entra na Justiça após ter imagem divulgada como 'golpista' no litoral de SP

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Homem entra na Justiça após ter imagem divulgada como 'golpista' no litoral de SP
Ricardo da Conceição Águia Ramos precisou de atendimento médico após ser alvo de fake news divulgada por áudio. Caso aconteceu em São Vicente (SP). Mulher acusa trabalhador de golpe em São Vicente

Um homem de 47 anos, entrou na Justiça após ter a imagem divulgada como se fosse um golpista em São Vicente, no litoral de São Paulo. Ricardo da Conceição Águia Ramos estava trabalhando quando foi alvo de fake news ao ser acusado de golpe (ouça acima). Ele moveu uma ação por danos morais, pois chegou a ter problemas psiquiátricos com o caso.

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Ricardo trabalha como leiturista e entregador para uma prestadora de serviços da concessionária CPFL Piratininga e se tornou alvo enquanto cumpria uma ordem de serviço para um apartamento do Edifício Segóvia, no bairro Itararé. Ele foi impedido de entrar no prédio pela portaria eletrônica.

Ricardo da Conceição Águia Ramos teve a imagem (à esquerda) divulgada como se fosse golpista

Reprodução e Arquivo Pessoal

"Cheguei na portaria, me posicionei, me identifiquei e a portaria não me deu retorno", relembrou Ricardo. Ele disse que tirou uma foto da frente do condomínio para provar que esteve no local, conforme o sistema pede, e foi embora.

No entanto, na semana seguinte o trabalhador foi surpreendido por um amigo que contou ter visto a foto de Ricardo [da imagem da portaria] circulando em grupos de WhatsApp como se ele fosse um golpista.

Segundo a vítima, a foto estava sendo compartilhada em um grupo de síndicos do Itararé com um áudio da síndica do edifício alertando as pessoas sobre golpes (ouça no início da matéria).

Na mensagem, a mulher dizia que o morador do apartamento citado por Ricardo contatou a CPFL, que informou não ter visita agendada para a região. Ela disse ainda que a concessionária pediu para o morador tomar cuidado, pois se tratava de um golpe.

"Eu não sou CPFL, eu trabalho para CPFL, sou prestador de serviço. E aí a CPFL pelo 0800, o que ela fez? Disse que eu era uma fraude. Não tinha [visita agendada], porque eu não sou CPFL", explicou Ricardo.

De acordo com o advogado, o trabalhador não iria até o apartamento, pois faz o serviço em uma área comum do prédio. "O trabalho dele [Ricardo] é embaixo", disse o advogado da vítima, Adriano de Souza Silva.

Ricardo chegou a ter problemas psicológicos e precisou ficar afastado por sete dias do trabalho. "Fui parar na psiquiatria porque eu já tive um problema emocional [...]. Foi bem complicado", afirmou o homem, que foi diagnosticado com ansiedade generalizada na ocasião.

Ricardo trabalha para uma empresa prestadora de serviços da concessionária CPFL

Arquivo Pessoal

Ação

A vítima procurou o advogado, que o orientou a fazer um boletim de ocorrência pelo caso que aconteceu em março. Três meses depois, Ricardo entrou com uma ação por danos morais.

O advogado Adriano explicou ao g1 que a ação é contra a CPFL, o condomínio Edifício Segóvia, a empresa responsável pela portaria eletrônica (Movimento Serviços Especiais) e dois moradores: a síndica (que passou o recado para outros grupos) e os proprietários do apartamento que Ricardo iria (que pediu a foto para a portaria eletrônica).

Ele disse que as defesas de alguns acusados já se manifestaram, mas todas se isentam da responsabilidade. "O juiz vai estar classificando a responsabilidade de cada um. A gente entrou com uma ação de danos morais contra essas pessoas e essas empresas porque poderia ter acontecido uma tragédia. Ele [Ricardo] trabalha todos os dias ali [no Itararé]", disse Ricardo.

Acusados

A CPFL Piratininga informou, em nota, que não comenta processos judiciais em andamento. "A empresa sempre cumpre as determinações judiciais e participa de todas as iniciativas de conciliação nos tribunais, priorizando sempre soluções amigáveis para os litígios"'.

Em nota, o advogado do edifício, da síndica e dos moradores, João Carlos Nogueira, informou que o Ricardo alegou falsamente que foi divulgado imagem dele em grupo de moradores sobre suposta ocorrência de fraude todavia sequer existe qualquer meio de prova quanto a tal alegação.

No pronunciamento, o advogado citou o processo como "verdadeira aventura jurídica", pois alegou que não existe registro ou imagem do alegado nem tampouco ordem de serviço para leitura que já ocorre mensalmente no edifício.

"A empresa não o enviou ao local e não existe qualquer ordem de serviço da CPFL para aquele edifício. Como não havia qualquer referência ou nota de serviço obviamente a portaria eletrônica não autorizou a entrada. Nada mais ou além disso ocorreu no caso", alegou o advogado.

Procurada pelo g1, a defesa da empresa Movimento Serviços Especiais (responsável pela portaria eletrônica) não se manifestou até a publicação desta reportagem.

Outros casos

Outro caso envolvendo a CPFL aconteceu em Santos, também no litoral paulista. Na época, um vídeo de câmeras de monitoramento foi divulgado como se dois trabalhadores fossem bandidos.

O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP) condenou o Condomínio Residencial Beira Vouga a indenizar José Nilton da Mota Lima e Robson Oliveira dos Santos. O juiz entendeu que, como proprietário das câmeras que gravaram os eletricistas na frente do prédio, houve negligência do condomínio na guarda das imagens e no cuidado com a divulgação delas.

Outro caso envolvendo fake news ocorreu em Guarujá. A dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, morreu após ser considerada uma outra pessoa. Ela foi espancada por dezenas de moradores ao ser confundida com uma suposta sequestradora de crianças para rituais de magia negra.

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